quinta-feira, novembro 16, 2006

Viamão e a "Arte de Viajar"

(in english after the portuguese)

O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem um a criança se, ao nascer,
Reparasse que nascesse deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

(Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio. p. 15)

Viamão e a "Arte de Viajar"

No livro "A Arte de Viajar" Alain de Botton cita viagens feitas por Alexander von Humboldt (Viagem às regiões equinociais do novo continente) e por Xavier de Maitre (Viagem pelo meu quarto)

A primeira exigiu dez mulas, uma bagagem composta de trinta peças, quatro intérpretes, um cronômetro, um sextante, dois telescópios, um teodolito Borda, um barômetro, uma bússola, um higrômetro, cartas de apresentação do Rei da Espanha e uma arma de fogo. A segunda, um par de pijamas de algodão rosa e azul (A Arte de Viajar - Alain de Botton)

Mais adiante ele prossegue dizendo que "se ao menos conseguíssemos aplicar uma disposição mental de viajante a nossos próprios locais, poderíamos descobrir que esses lugares se tornam não menos interessantes que os passos em altas montanhas e as selvas repletas de borboletas da América do Sul de Humboldt"

Botton conclui com uma citação de Nietzsche:
Quando observamos como algumas pessoas sabem gerir suas experiências - suas experiências insignificantes, do dia a dia - de tal modo que elas se tornem um solo arável que produz frutos três vezes ao ano, enquanto outras - e como são numerosas! - são arrebatadas pelas grossas ondas do destino, pelas correntes mais multifacetadas dos tempos e das nações, e ainda assim estão sempre à tona, como uma rolha de cortiça, acabamos sendo tentados a dividir a humanidade numa minoria (ínfima) dos que sabem extrair muito do pouco e uma maioria dos que sabem extrair pouco do muito.

Procurando encontrar significado na mensagem de Alain de Botton, fui em outro ciclopasseio até Viamão (RS) e o distrito de Águas Claras.
Eu acreditava que praticar cicloturismo por lá seria insosso. Apesar de todo seu potencial turístico, Viamão é considerada apenas uma cidade dormitório.

Devido à rotina e aos pensamentos repetitivos normalmente deixamos de perceber o mundo que nos cerca nas suas várias dimensões. Nossa visão seria direcionada para aquilo que nos interessa e o restante do todo ficaria transparente, como a água ou o ar - insosso e inodoro. O que não é focalizado cai nas trevas dos sentidos.
Seguindo essa linha de raciocínio poderíamos ao final concluir que nosso universo consciente é o reflexo daquilo que pensamos e que a fé remove mesmo montanhas.

Por coincidência, assim que terminei de ler o livro, o seu Pedro Marcon me telefonou na manhã do feriado de quarta-feira.

-Vamos pedalar?
-Onde?
-Que tal até o Lago Tarumã, no centro de Viamão?
-Apesar de ter estado em Viamão mais de quatrocentas vezes nunca fui no lago. Passo aí às 14 hs.

Encontrei o seu Pedro num jardim, à sombra de um pé de umbu para fugir do calor. Cheguei suado e tomei dois ou três copos d'água de cacimba. A água gelada e o ambiente úmido das pedras cobertas de limo foi um bom refrigério.



Era cerca de duas horas da tarde quando iniciamos o pedal a caminho do Lago Tarumã.
Potente sol a pino, raios de um outro sol, que pareciam atravessar o pífio fator 15 do meu protetor solar; coisas relacionadas ao enfraquecimento da camada de ozônio em era de mudanças climáticas.
Logo no início pedalamos numa rua com bastante sombra, lugar aprazível.



A descoberta do novo no velho começou por aí, achei que nunca tinha passado por aquela rua quando na verdade já tinha passado por ali noutras ocasiões da vida. Mas daquelas outras ocasiões eu ia carregado de peso e olhava para baixo e para outros objetos; as árvores e suas sombras passaram desapercebidas.

Da rua sombreada até Viamão fui pensando nos diversos aspectos da vida, o pedal passou em branco e distante do parceiro. Acordei em frente da vetusta igreja branca Nossa Senhora da Conceição como que atraído pelo sacrário. Nunca me canso de ver aquela igreja, e não é por acaso que essas naves me atraem.



Para se ter o espírito de viajante que nos fala Button devemos nos empenhar para ver o mundo em todos os prismas, para isso é necessário abandonar hábitos mentais esvaziando a mente de idéias cristalizadas e preconceitos. Com a mente vazia, procurei ver aquilo que já tinha visto e também o que havia se tornado invisível.

-Vamos para o lago!

Entramos por novas ruas dentro do centro antigo. Paralelepípedos e uma longa descida que me levou a duvidar da razão e pensar que não estava pedalando em Viamão. Por um instante achei que estava descendo a serra.
Lá em baixo uma estrada de terra e um lago grande e bonito demais para eu não ter percebido a sua existência nesses anos todos.

Alamedas de árvores nativas ao derredor, estradas sinuosas de chão batido feitas para um passeio bucólico, gentes pescando e nadando. Sombra e mais sombra de arvoredo, cheiro d’água, pequenas represas transbordando marrequinhas com um verde fosforescente, Tudo isso cabia ali, no centro da cidade que eu julgava conhecer bem demais.

-Vamos para a casa dos padres!

Subimos uma lomba até a RS 118 onde ficava o Abrigo e Centro Educacional João Paulo II. Seu Pedro disse que era amigo do irmão. Entramos portão adentro, uma turma de guris pedalantes, cada qual com sua bicicleta veio nos recepcionar.

-Tio! De onde vocês vêm? Para onde vocês vão.
-Estamos indo para Águas Claras. Vocês moram aí?
-Sim, e é bem legal de morar aqui.

Admiro o trabalho do irmão e da irmã. Que altruísmo, cuidar dessa gurizada sem eira nem beira. Que Deus os acompanhe.

-Vamos para Águas Claras.

Outro pedal sonhador. Até a estrada ajudou no devaneio. Sol forte, em direção à praia. Até parece que iríamos parar no mar.



Acordei na fábrica artesanal de facas e quadros onde seu Pedro parou para pegar uma pexeira que havia encomendado com o seu Valter.
Entramos na fabriqueta onde havia uns xirus no batente e umas facas reluzentes de amostra no balcão. Eu estava vestindo bermudas e camisas largas, por isso não chamei tanta atenção quando falei alto para o seu Pedro devido ao barulho do esmirilho.

-Olha a faca!!!

Depois de colocada a faca na bota seu Pedro lambeu os beiços, sol na cara. Pensei numa ceva gelada.

-Vamos pegar umas geladas para tomar com o pessoal da Ponta do Aterro.

Num boteco de beira de estrada compramos salame e queijo, enchi a sacola de skol. Saímos correndo para evitar o degelo das geladas.



Nas proximidades de Ponta do Aterro matamos a sede e fizemos umas trilhas a pé num mato desconhecido. O seu Pedro estava pensativo.

-O que foi?
-Tô com saudade da véia. Vamos indo que estamos de bike!

Eram seis horas da tarde, largamos as garrafas vazias no boteco. Em quatro horas eu já tinha descoberto um mundo paralelo. E seu Pedro queria pedalar pesado.

-Vamos nessa! Agora só paro em casa!

-Slow ride! Take it easy!



Dados numéricos:

Distância pedalda: 75 km
Vm:19 km/h


Viamão city and the “The Art of travel”

In the book “the Art of Travel”, Alain de Botton talk about the trips made for Alexander von Humboldt (Trip to the equinoctial regions of the new continent) and for Xavier de Maitre (Trip for my room) The first one demanded ten mules, a composed luggage of thirty parts, four interpreters, a chronometer, a sextant, two telescopes, a teodolito Edge, a barometer, a compassing, one higrometer, letters of introduction of the King of Spain and a firearm.The second, a pair of pyjamases of pink and blue cotton. (The Art To travel - Alain de Botton)
Ahead he continues saying that “if at least we obtained to apply a mental disposal of traveller to our proper places,we could discover that these places would become not less interesting than the steps in high mountains and the forests full of butterflies of the South America of Humboldt
Botton concludes with a citation of Nietzsche:
When we observe as some people know to manage its experiences - its insignificant experiences, day to day - in such way that they become one ground arable that produces fruits three times to the year, while others - and they are numerous! - they are carried by the thick waves of the destination, for chains most multifaceted of the times and the nations, and still thus they are always to up, as a cork oak, we finish being attemped to divide the humanity in a minority (lowermost) of the ones that know to extract very of little and a majority that know to extract little of very much.Looking for to find meant in the message from the Alain de Botton, I went in another cycle stroll until Aguas Claras and Viamão city.
I believed that already I knew sufficiently regarding that city and that to practise ciclotourism for there could be untaste and boring. In addition Viamão is a city dormitory, although the tourist potential. I thought that, due to the repetitive acts, normally we stop perceiving the world in its many dimensions. Our vision would be directed for what we have interest in, sothe rest remains transparent, untaste as the water or odourless like pure air.
Following this line of reasoning we could conclude that our universe is the consequence of what we think and that the “faith removes mountains”. For coincidence its Peter telephoned me in the morning of thursday.
- let´s go cycle!?
- Where?
- What about until the Lake of Tarumã, in the center of Viamão city?
- Despite having been in Viamão more than four hundred times I never I went in the lake. Let´s go! Met you 2 PM.
I found Mr Peter in the garden, to the one shade umbu tree, to keep cold from the heat. I arrived sweated and I took two or three water cups of a good water. The frozen water and the humid environment of the wet rocks were a good thing to keep the hot distant.
It was about 2 PM when we initiate the pedal to Lago Tarumã. Powerful sun the bolt. Sun rays that seemed to cross the factor 15 of my sunner protector; things related to the weakness of the ozone layer in age of climatic changes.
Soon at the beginning we cycled a street with sufficient shade, nice place. The discovery of the new in the old one started for there,I thought i had never passed for that street when in the truth I already had passed by there in other occasions of the life. But of those other occasions I went loaded of weight and I looked at to low eand to other objects; the trees and its shades had passed unfurnished.
From the street shaded until Viamão I was thinking about the diverse aspects of the life, the pedal and surroundings passed in blank and distant of the partner. I woke up in front of the very old white church with attracted by the sacrarie. I never get tired myself to see that church, is not by chance that the church attract me. To have the traveller spirit that says Button we must in pledging to see them the world in all aspects, for this it is necessary to abandon mental habits emptying the mind of ideas and preconceptions. With the empty mind, I looked for to see what already it had seen and what it had never seen in the city of Viamão.
-Let´s go to the lake!
We took new streets in the old center of Viamão city. Parallelopipeds and a long descending that took me to doubt my reason and to think that it was not cycling in Viamão. For a few seconds I thouight that it was cycling in the mountain range. Back in low a land road and a pretty lake great e excessively to me not have perceived its existence in all these years. Tree-lined avenues of native trees to around, sinuous soil roads beaten made for a bucolic strolls, people fishing and swimming. Shade and more shade of trees, smell of water, small dams overflowing vegetables with a light green. Everything was fit there, in the center of the city that I judged to know very well.
- Let´s go for the house of the priests! We went up one climb until RS 118 road where it was the shelter João Pablo II. Its Peter said that he was friend of the brother. We enter by the gate, a group of cycling little boys, each one with its bicycle came to give us wellcome
- Uncle! Where are you comming from? Where are you going to?
- We do not know exactlly. We are going for Clear Waters district. Do you all live here?
- Yes, we do, and it is nice to live here. The sister adoptive mother of all the little boys took our photograph.
I admire the work of the brother and the sister. That altruism, to take care of of thata boys without home. Lord help them!
- Let´s go to Clear Waters district!
Another dreaming pedal. Also the road it helped in the dream. Strong sun, in direction to the beach. Sometimes it seemed that we was going to stop in the sea. I woke up in the artisan factory of knives where Mr Peter stopped to catch a “pexeira” that had ordered with Mr Valter. We entered in the small factory where the guys were in the jamb and there were some beautiful knives as sample in the balcony. I was dressing wide bermuda shorts and shirts, therefore he was not so ugly when I spoke high to Mr Peter due to the racket of “esmirilho’.
- Looks the knife!!
After placed the knife in the boot its Peter licked the lips, sun in the face. I thought about a frozen fattening.
- Let´s go to pass in bar to catch ones frozen beer to take with the staff of the “Tip of Aterro” district. In bar that never I had been I bought sausage and cheese and I fulled the bag of skol beer; we leave running to prevent the thawing of the frozen one.
In the neighborhoods of Tip of Aterro we drunk the beer and made tracks by foot in unknown weeds. Mr Peter was thoughtful.
- What happened?
- I am missing my wife. Let´s go, because we are here by bicycles, not by car.
It was 6 PM, we released the empty bottles in bar.I already had discovered the parallel world. Mr Peter wanted to cycle heavy.
- Let´s go now! I will only stop at home!
- Slow ride! Take it easy!

Numerical data:
Distance cycled: 75 km
Vm: 19 km/h

sexta-feira, novembro 03, 2006

Vila Itapuã

(in english after the portuguese)

Vila Itapuã

No feriado de finados fui com o seu Pedro Marcon até a Vila Itapuã em Viamão-RS.
Motorista aposentado, pintor, apaixonado primariamente por cicloturismo, nos seus sessenta e poucos anos de vida o seu Pedro diz que já pedalou algo em torno de quarenta mil quilômetros.

Provavelmente devido à sua segunda grande paixão - as pedras - seu Pedro é também chamado de “Pedrão” pelos parceiros de ciclismo.
Nos passeios e viagens de bicicleta ele pedala esquadrinhando o chão e beiras de estrada em busca de pedras atrativas - principalmente as redondas e lisas.
Diz que sempre traz uma pedra de recordação de todo lugar por onde pedala. Logo pedras! Um objeto normalmente pesado e por isso mesmo difícil de transportar na bicicleta!

Tive o privilégio de conhecer os quadros e o belo jardim “pedrido” do seu Pedro, onde ele organiza cuidadosamente as pedras recolhidas em décadas de pedal.
Sem cerimônias ele orgulha-se do que faz e não faz segredo de suas paixões. Portanto, me autorizou a publicar algumas fotos neste blog.



(Seu Pedro)


Encontrei o seu Pedro às oito e meia da manhã de quinta-feira naquele jardim. Ele estava regando as pedras para preservar o musgo e deixá-las com um tom esverdeado.
Prontos para o pedal, rapidamente pegamos as bicicletas e partimos para Viamão.

Pedalamos lentamente até a estrada que vai para Itapuã no entroncamento da RS 40 com a RS 118. Ali entramos na chamada estrada do Fiúza e logo mais adiante na estrada Cel Acrísio Prates, que vai até as proximidades da Vila Itapuã.







Depois de vinte e poucos quilômetros pedalados naquela estrada de terra entre sítios, chácaras e fazendas, com pequenos açudes, campos, algumas casas antigas e figueiras nativas no costado como a nos observar e nós a observá-las, parei perto de uma figueira.
Não parei por cansaço e sim porque a paisagem era atraente; vínhamos com uma velocidade média de 15 km/h somada a algumas paradas para fotografias.
Encontrei seu Pedro logo mais adiante num bolicho de beira de estrada que ainda preservava no balcão uma daquelas balanças com ponteiro que fez relembrar minha infância.

Eu já tinha pedalado quatro vezes naquele trecho da estrada. Tinha ido de bicicleta até a Vila Itapuã quatro vezes, duas das quais havia pedalado até a localidade de Varzinha, às margens da Lagoa dos Patos. Mas cada pedal é diferente do outro embora a paisagem seja a mesma.
A variação é definida pelo estado de espírito, preparo físico, equipamento e parceria entre outros fatores.
Dessa vez achei a estrada e o tempo curtos e cheguei mais rápido e descansado do que das outras vezes, apenas estava com fome.

Era onze e meia da manhã, fomos direto ao restaurante Calunas que fica atrás da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes. Prato do dia, duas garrafas de cerveja, picolé. Estávamos prontos para passear a pé no terreno arenoso ao largo da praia.



Havia pouco movimento na vila. Pensei em dar uma volta de barco, mas o passeio somente seria realizado às 15 hs, isso se tivesse no mínimo oito participantes. O custo do passeio de duas horas é vinte reais.

O seu Pedro é muito comunicativo. Fala alto e bastante. Depois de um bom tempo na sombra das árvores, conversamos com alguns moradores sobre os morros ao derredor.

Chamou-me atenção os juncos que crescem na areia e dentro d’água. Um pouco de cerveja pode ter desencadeado a tendência natural de procurar fotografar o surreal. Entrei na água e molhei os tênis para capturar imagens dos juncos e depois aprisioná-las como plano de fundo do monitor de um computador.





Eu gostaria de pedalar até a praia das pombas no Parque Estadual de Itapuã, mas segundo informações é proibido andar de bicicleta lá dentro. Portanto decidimos voltar para Porto Alegre.
No trecho que liga a vila de Itapuã ao Lami o seu Pedro mostrou seu lado velocista: pedalou com uma velocidade média certamente superior a 30 km/h .
Como normalmente pedalo com 60% do potencial, fiquei para trás o suficiente para não perdê-lo de vista.



Entramos numa estrada secundária que vai até o Lami, uma estrada de terra, vazia, quase plana, que me fez recordar o trecho da BR 116 entre Jaguarão e Arroio Grande.
Encontrei seu Pedro na areia.
-Vamos tirar fotos mais adiante.
Rapidamente passou um pontilhão e desapareceu pedalando.
Eu vi uns barcos encalhados ali perto do pontilhão e sentei um pouco fora do selim para descansar.
Mais adiante tiramos fotografias entre a vegetação abundante da beira do estuário. Haviam algumas pessoas por ali, provavelmente moradores do Lami. Ninguém dentro d’água, apesar do sol forte a água estava gelada.
-Vamos tomar um suco no suco!



O seu Pedro continuou pedalando forte até o “suco”. O que me chamou atenção foi o fato dele pedalar até nas descidas leves, mesmo sem vento contra ou rodas travadas. Eu segui atrás procurando não forçar muito o pedal, sempre mantendo aquela percentagem estratégica de limite de esforço.
Enfim chegamos ao “suco”, a famosa fruteira na beira da estrada que liga o bairro Restinga ao Lami e que todo integrante das listas de discussão do yahoo “bike-rs” e “poabikers” conhece.

Sempre muito comunicativo, depois de recuperar o fôlego, o seu Pedro começou a falar para uma platéia curiosa ao ver aquele senhor de cabelos brancos, vindo de não se sabe onde, suado e vestindo roupas de ciclista.
- Pedalei pelo Uruguai, Argentina e nordeste brasileiro. Está tudo no site do Inema... Vamos subir a serra do corvo branco e esse meu parceiro vai junto!
- Puxa! É mesmo?!

Essa expressão de espanto deve ter sido por causa da minha reserva lipídica na região umbilical. Uma reserva dessas é bastante útil nos casos de pedais de longa distância através do agreste onde abunda água e falta alimentação.

Saímos do “suco” a alta velocidade, o seu Pedro sempre na frente.
- Vamos para a usina do gasômetro!
- Boa idéia.Vamos por Ipanema!
- Não, vamos pelo Teresópolis!

Na Avenida Eduardo Prado ouvi um “plac plac plac” que vinha de uma das rodas da Volare.
- Vou parar! Pelo barulho deve ser alguma pedra presa nos grampos do pneu.

Para o ciúme do seu Pedro era mesmo uma pequena pedra, redonda e lisa. Ele sente atração por pedras desse tipo, e as pedras estavam sendo atraídas por mim.

Entramos na avenida Cavalhada a mais de 30 km/h, eu no vácuo do seu Pedro. Nesse ponto não havia mais paisagem nem razão para poupar esforço. Libertei os 40% restantes do potencial e o seu Pedro sumiu para trás em poucos minutos.
Pedalei forte e girei rápido até o bairro Teresópolis onde parei para esperar o seu Pedro. Comprei um refrigerante e sentei num degrau da calçada sob a sombra de um poste de luz.
Esperei o seu Pedro uns 15 min e decidi seguir até o gasômetro. Provavelmente ele havia entrado na Avenida Dr Campos Velho até a Avenida Icaraí.

Por volta das quatro horas da tarde encontrei o seu Pedro nas proximidades da Usina do Gasômetro junto com um grupo de ciclistas. Lá estava o velho parceiro de pedal Rodrigo Santos, que eu não via há bastante tempo.
- Fiquei meses em Criciúma!

Tiramos fotografias para a posteridade e acertamos pedais futuros. O seu Pedro queria ficar com as fotos do passeio.
- Vamos até o centro comprar um cd virgem.

Passamos pela 52° Feira do Livro, apinhada de gente e livros. Nas proximidades do mercado público adquirimos um cd com os camelôs.

Atravessamos o parque da redenção e pedalamos lentamente até o sofá de casa onde tomamos uma serramalte gelada e combinamos um almoço para o fim de semana: peixe frito em disco de arado no galpão/museu do seu Pedro.



Dados numéricos do pedal:

Total pedalado: 113 km

Vm ida: 15 km/h

Vm volta: 25 km/h

Vm total: 20 km/h



Itapuã Village

In the holiday of deceased I went with Mr Peter Marcon until Itapuã Village in Viamão-RS city. Retired truck driver, painter, gotten passionate firstlly for cyclotourism, in its sixty and few years of life Mr Peter says that already cycled around forty a thousand kilometers.
For obvious reasons, probably due to its second great passion that are rocks - Mr Peter also is called “Big Peter” for the cycling partners. In the strolls and trips of bicycle he cycles investigating the soil and roadsides in search of attractive rocks - normally round and the smooth ones, or with some quaint format. He says that always brings a rock of memory from all place for where he cycles. Just rocks! Heavy and a normally difficult object to carry in bicycles!
I had the privilege to know Peter’s pictures and his beautiful garden, where he carefully organizes the rocks collected in decades of pedal. Without ceremonies he is proud of what he makes and does not make secret of its passions. Therefore, he authorizeed me to publish some photos in blog perpedalando.
I met Mr Peter 8:30 AM in that garden. He was watering the rocks to preserve the moss that leaves them with a green tone. Ready for the pedal, quickly we took the bicycles and we went to Viamãocity. We cycled slowly until the road that goes for Itapuã in the meeting of RS 40 with RS 118 roads. There we entered in the called “road of the Fiúza” and some time more in the road Cel Acrísio Prates, that leads until Itapuã village.
After twenty and few kilometers cycled in that land road between small farms, mansions and farms, with small dams, native trees, eucaliptos trees, some old houses as they were observing us as we were observing them I stopped in a fence to look at the surrounds. I did not stop for fatigue and yes because the landscape was attractive; we came with an average speed of 15 km/h added to some stops for photographs. I soon found Mr Peter ahead in a bar of roadside that still preserved in balcony one of those scales with hand that made me to remember my infancy.
I already had cycled five times in that stretch of the road. I had gone by bicycle until Itapuã village four times, two of which I had cycled until the locality of Varzinha, in the edges of the Lagoon of the Ducks.
Each pedal is different of the other even so the landscape is the same one. The variation is defined by the state of spirit, physical preparation, equipment and partnership among others factors. In this time I found the road and the time short and arrived faster and resteder than in the other times, I only was hunger in this time.
It was 11:30 AM, we were direct to the Calunas restaurant that is behind the Church Ours Lady of the Navigators. Food of the day, two bottles of beer, ice cream. We were ready to walk by the foot in the arenaceous land to the plaza of the beach. There were little movement in the village. I thought about make a boat trip, but would only have a stroll to the 3:00 PM if it had eight participants at least. The cost of the stroll of two hours is twenty reals.
Mr Peter is a very talking person. He speaks high and sufficient. After a good time in the shade of the trees, we talked with some inhabitants about the mounts that had around.
Called me attention the rushes that grow inside in the sand and water. A little of beer can have unchained the natural trend to look for to photograph the surreal. I entered in the water and I wet the tennises to capture images of the rushes and later imprisoning them in the deep one of screen of a computer.
I would like to cycle until the “beach of the doves” in the state park of Itapuã, but as information are forbidden to cycle inside the park. Therefore we decided to come back toward Porto Alegre.
Mr Peter showed its velocist side and developed at least 30 km/h of average speed in the stretch that binds the village of Itapuã to the Lami locality. As normally I cycle with 60% of the potential, I was in backwards the sufficient to not lose Mr Peter of sight.
We entered in a secondary road that goes until the Lami, a land road, empty, almost plain, that made me to remember the stretch of BR 116 between Jaguarão and Arroio Grande cities. I found Mr Peter in the sand.
- Let’s go take off photos more ahead.
Quickly he passed a smal bridge and it disappeared cycling. I saw boats aground close to the small bridge and seated a little there to rest from the seat of my bicycle. More ahead we take off photographs between the abundant vegetation of the side of the estuary. There were some people there, probably they lived in the Lami Village. Nobody inside of water, although the strong sun the water was frozen.
- Let´s go to take a juice in the “juice”!
mr Peter continued cycling strong until the “juice”. Called me attention the fact that he cycle even in the light descendings, even thought without wind against or stopped wheels. I followed behind him expecting not to force too much the pedal, always keeping that strategical percentage of effort limit.
At last we arrived in the “juice”, that celebrity bar in the side of the road that binds Restinga quarter to the Lami and that all integrant of the yahoo groups “bike-rs” and “poabikers” know. Mr Peter, always very talking, after recouping the breath started to say for a curious auditorium when seeing that gentleman of white hair with clothes of cycler, all sweated come from unknowed place.
- I cycled for Uruguay, Argentina and Brazilian northeast yet. Everything is in the site of the Inema… We are going to go up the mountain range of the white crow and this my partner are going together!
- Really??!!
This expression of astonishment must have been because of my fatty reserve in the umbilical region. A reserve like this is very useful in the cases of pedals of long distance through the wasteland where there are water and lacks feeding.
We left the “juice” at high speed, Mr Peter always in the front.
- Let´s for the “Gasometro”!
- Good idea. Let’s go for Ipanema!
- Not, let’s go for the Teresópolis!
In the Eduardo Prado Avenue I heard one “plac plac plac” noise that came from one of the wheels of the Volare.
- I go to stop! For the racket it must be some imprisoned rock in the cramps of the tire.
For the jealousy of Mr Peter a small rock, round and smooth really imprisioned in the tire. He feels attraction for rocks of this type, and the rocks were being attracted to me.
We entered in in the Cavalhada Avenue cycling at more than 30 km/h, I was in the vacuum of Mr Peter. In this point there were no more reason to save effort. I gave freedon to the 40% remains of the potential and Mr Peter disappeared backwards in few minutes. I cycled stronglly and fast until the Teresópolis quarter where I stopped to wait its Peter. I bought a cooling bottle one and I seated in a step of the sidewalk under the shade of a light pole.
I waited its Peter so so 15 min and decided to follow until the “Gasometro”. Probably he had entered in the Dr Barcelos Avenue until the Icaraí Avenue.

I met him in the neighborhoods of the “Gasometro” with a group of bicyclers. I found an old partner of pedal Rodrigo Santos who was disappeared.
- I was in Criciúma city since a long time!
We took off photographs for the posterity and we make right future pedals.
Mr Peter wanted to be with the photos of the stroll.
- Let´s go until the downtown to buy a virgin compact disc.
We passed for the “Show of the Book”, pressed together people and books.
In the neighborhoods of the public market we acquired a compact disc with the peddlers. We crossed the park of the redemption and cycled slowly until the sofa of my house where we took a serramalte frozen beer and combined a lunch for the weekend: fish fried in the shed/museum of Mr Peter.


Total cycled: 113 km
Av to go: 15 km/h
Av to come back: 25 km/h
Total Av: 20 km/h