quarta-feira, outubro 25, 2006

Jaguarão e Arredores - Terceira Parte

(in english after the portuguese)

Jaguarão e Arredores – Terceira Parte

Cheguei de volta em Jaguarão às dezoito horas. Parei num posto de gasolina e calibrei os pneus borrachudos. Entrei numa padaria e me abasteci de pilhas palito para o farolete e de carbohidratos para o corpo. Sabia de antemão que seria preciso pedalar um bom tempo na escuridão da noite para alcançar Arroio Grande.

A bicicleta estava bem equipada com sinaleira traseira e farolete cateye, alforges com faixas reflexivas laterais e traseira; eu levava água e alimentação suficientes para uma noite de pedal.
Como o vento da região normalmente é sudoeste, eu estava contando com um empurrão até Arroio Grande. Haviam falado que o acostamento era razoável numa boa parte do trecho. Portanto a previsão era de que aquele pedal noturno fosse relativamente tranqüilo e seguro.

Telefonei para o Poti mas o telefone celular estava fora de área. Parti com otimismo, pensando que ele teria ficado um certo tempo em Jaguarão tirando fotos artísticas antes de rumar para Arroio Grande, provavelmente não deveria estar muito longe.

Sempre é bom viajar de dia. É mais agradável e seguro, especialmente quando se viaja de bicicleta. Na elaboração dos roteiros evito a inclusão de viagens noturnas. Quando um pedal à noite for inevitável, o ideal é atravessar a escuridão o mais rápido possível.

Pedalar no limite do potencial individual e acima do ritmo cardíaco ideal normalmente se manifesta no dia seguinte como dores musculares e queda no rendimento.
Quase sempre pedalo com a metade da minha capacidade aeróbica e muscular.
Naquele caso eu estava ciente de que deveria aumentar a potência e atingir mais de dois terços da capacidade, primeiro por ser um pedal noturno, segundo porque eu esperava alcançar o Poti.

Era quase seis e meia da tarde, o sol estava ficando fraco, saí de Jaguarão pedalando num acostamento novo quase cru a ponto de causar receio do piche grudar nos pneus e vice versa. Logo senti no pescoço um vento frio e contra, que me incomodava os ouvidos. O otimismo e a velocidade foram diminuindo quando percebi que eu pedalava até nas descidas para não parar.



Depois de pedalar cerca de quinze quilômetros contra o vento e sem encontrar nenhuma moradia ou posto de gasolina na estrada, acabou o acostamento e logo escureceu.

Analisei a situação: faltavam trinta e cinco quilômetros de pedal noturno e solitário contra o vento através daquele caminho desconhecido, provavelmente despovoado e sem acostamento.
Pensei em retornar a Jaguarão. Mas ao mesmo tempo também pensei numa cama com lençóis limpos me esperando no Hotel Colinas Altas em Arroio Grande.
Enrolei uma camiseta na cabeça, tapei os ouvidos para me proteger do vento frio e segui adiante pedalando na beirada da faixa branca.

O trânsito de automóveis era moderado, cerca de um veículo a cada dois minutos. Passavam vários carros e poucos caminhões, inúmeras motocicletas. Alguns buzinavam. A maioria, tanto os que iam como os que vinham, baixava a luz alta ao notar minha presença.
Senti falta de um espelho retrovisor na bicicleta para ver os faróis dos veículos que vinham se aproximando. Ela se desestabilizava quando eu tentava olhar para trás devido ao peso do alforge.

Pedalei o mais rápido possível. Na escuridão e contra o vento eu não percebia se estava subindo ou descendo, simplesmente pedalava forte e incessantemente para não parar. Com a escuridão completa na parte posterior do farolete eu não tinha noção de distância e velocidade, não sabia com qual relação pedalava e tinha dificuldade até para achar a caramanhola.

Num determinado ponto o deserto e as trevas levaram-me a pensar que seria melhor eu esconder-me nas gramas altas e dormir à beira da estrada, ensacado na espécie de mala-bike improvisada que vinha dentro do alforge.
Mas também pensei nas luzes, nas pessoas, e na cama com lençóis limpos me esperando no Hotel Colinas Altas em Arroio Grande. Pensei nas cobras e lagartos me esperando nas gramas altas.
Havia enfim chegado ao ápice da viagem. Talvez naquele ponto equidistante entre Jaguarão e Arroio Grande eu tivesse encontrado uma oportunidade rara de não poder desistir. Momento alquímico onde se esmaga a covardia e se fabrica a coragem. A ponte na retaguarda fora destruída e não restava outro caminho a seguir senão seguir adiante.

Enfim avistei as primeiras luzes da cidade. Um carro que vinha no sentido contrário parou no acostamento e alguém gritou.
- Sai da faixa!
Continuei.
- Anda no acostamento!

Era uma viatura da polícia rodoviária.
Entrei no que se podia chamar de acostamento: um gramado. A viatura fez meia volta, parei e os policiais desceram. Solicitaram documentação, perguntaram de onde eu vinha e para onde eu ia.
- Está bem que tu pratiques teu esporte, mas vá pelo acostamento pois podes ser atropelado. Não queremos juntar teus pedaços.

Segui lentamente pelo acostamento. Era perigoso de se pedalar ali também devido aos buracos e pedras ocultos pela grama alta. Mas em alguns trechos dava para se pedalar numa faixa estreita de um resquício de acostamento. Assim fui até a entrada da cidade onde ficava o hotel Colina Altas.

Chegando no hotel o recepcionista eufórico me deu a chave do quarto.
-Que aventura!!! Como foi?
-Foi uma viagem! Onde estão meus companheiros?
-Estão nos seus quartos!
-Vocês me conseguem água quente e um punhado de erva-mate? Quero preparar um amargo.
-É claro que conseguimos!

Era nove e trinta da noite. Entrei no quarto, larguei a bicicleta e fui procurar os parceiros. Bati na porta dos dois quarto.
-Tem alguém aí?
Nenhuma resposta, tudo escuro – concluí que ou eles eram indivíduos com grande facilidade para dormir ou que cairam no sono devido à exaustão.
Tomei banho, saboreei um bom chimarrão, comi uns pães cacetinhos que havia trazido de Jaguarão, e dormi.
Tinha pedalado 130 km naquele dia.


Acordei na manhã seguinte com batidas na porta. O Poti me chamava.
-Vamos pedalar!
Levantei meio confuso.
-Pedalar? Onde? Para que?
-A Márcia vai ser nossa guia pela zona rural de Arroio Grande. Vai nos acompanhar de carro. Sairemos em quarenta minutos.

Era cerca de oito horas. Tirei o alforge da bike e tomei café proseando com o Gava.
-Vocês dormiram cedo heim?
-Que nada! A gente foi numa festa. Quem dormiu cedo foi você. Cheguei às oito de Jaguarão. A Márcia um pouco antes. Um carro de apoio a recolheu na metade do caminho.
-E o Poti?
-Ele veio comigo.

Em pouco tempo eu já estava pedalando com o Poti em direção ao centro de Arroio Grande onde nos encontraríamos com a Márcia.
- E o Gava?
- O Gava vai ficar.
Encontramos a Márcia na casa dela.
-Sigam pela RS 602. A gente se encontra a uns 15 km daqui, na localidade de Peleia.
A localidade era uma granja meio abandonada. Durante todo o percurso não vi nenhuma habitação. Fiquei preocupado com a água.
-Trouxeste água Márcia?
Ela me mostrou um "litrão".

Entramos numa estrada vicinal que se tornou cada vez mais estreita e esburacada; por fim se transfigurou em trilha e a Márcia teve de descer do carro e ir caminhando.





Chegamos numa grande laje convexa semelhante à calota de um asteróide.
-Como se chama esse lugar?
-Todos chamam de "Laje".





Dali voltamos à RS 602, pedalamos de volta uns 5 km e entramos noutra estrada vicinal para conhecer a ponte ferroviária Mauá.
Atualmente não é mais ponte ferroviária, retiraram os trilhos e dormentes e a trasformaram em ponte rodoviária.





Voltei para o hotel com 50 km rodados , tomei banho e me preparei para o retorno.
Antes da partida fomos ao centro de Arroio Grande para almoçar. Havia uma exposição de motocicletas no centro. Tinha uma grande motocicleta preta, com reboque em forma de caixão de defunto, repleta de imagens que faziam apologia contra o uso de drogas. Amarrado no banco com uma coleira havia um gato preto.



Depois do almoço pegamos carona para Pelotas com uma combi.

Em Pelotas fizemos um translado para o jipe "poçante"(onde pára faz poça). Tomanos café numa das mais tradicionais cafeterias da cidade e rumamos para Porto Alegre.


Jaguarão city and surroundings - Third Part

I arrived in Jaguarão city at the 6 PM. I stopped in a gas station to calibrate the tires, and in a bakery to supply me with stacks for the lamp of the bicycle and carbohidrates for the body. I knowed that i would have to cycle for hours in the darkness to reach Arroio Grande city.

The bicycle was well equipped with back flaglight and lamp cateye, bags with lateral and back reflexive bands; i carried enough water and feeding for a night of pedal. As the wind of the region normally it is southwestern, I was expecting a good push until Arroio grande. To cycle against the wind is owfull. They had said me that the side of the asphalt was reasonable in a good part of the stretch therefore the forecast was of that the pedal although nocturnal would be calm and safe.

I telephoned for the Poti but his cellular was out area. I left Jaguarão city with optimism, thinking that he would have stayed a good time in Jaguarão taking off artistic photos before heading for Arroio grande and therefore he would not have to be too much far from me.


It is always good travelling during the day. It is more pleasant and safer, especially when it we travell by bicycle. In the elaboration of the scripts I prevent the inclusion of nocturnal trips. When cycling at night will be inevitable, the ideal is to cross as fast as the possible the blackout.

Cycling in the limit of the individual and above of the ideal cardiac rhythm normally manifest in the following day as muscular pains and fall of income. Almost always I cycle with the half of my aerobic and muscular capacity. But in that stretch I decided that I would have to increase the power and to reach two third of the potential, first because it was a nocturnal pedal, second because I waited to reach the Poti.

It was almost 6:30 PM of the afternoon, the sun was being weakened, I left Jaguarão cycling in an almost raw new sideroad to the point to cause distrust of the tar to fix in the tires. Soon I felt in the neck a cold wind against and it bothered my ears. The optimism had a brusque fall when I perceived that I had to cycle even in the descendings to not stop. As the sideroad was good, I followed ahead.

After cycling about fifteen kilometers against the wind and without finding no housing or gas station in the way, it finished the sideroad and soon became gloomy. I would have to cycle 35 km in that conditions. About this point I thought about returning to Jaguarão city. But at the same time also it thought about a bed with clean sheets waiting for me in the Hotel High Hills in Arroio Grande. I rolled a t-shirt in the head, covered the ears to protect me of the cold wind and followed ahead cycling in the side of the white band in asphalt.


The transit of automobiles was moderate, passed many cars and few trucks, innumerable motorcycles. Some buzzed. The majority lowered the high light when noticing my presence - the ones that went as the ones that came. I cycled as fast i could do. I felt lack of a mirror in the bicycle. It was not stable itself when I tried to look backwards due to the weight that I loaded in bags.

In the darkness and against the wind I did not perceive if I was in an ascent or in a descending, simply i cycled incessantly to not stop; at principle everything was ascent. With thar darkness in the backward of the lamp of bicycle, I had difficulty even to find the bottle of water.


In a determined point, the desert and the darknesses had taken me to think that would be better I hide myself in the high grasses and sleep in the side of the road, bagged into a species of improvised luggage-bike that i carried inside of bicycle luggages. But also I thought about the lights, the people, and the bed with clean sheets waiting for me in the High Hills hotel in Arroio Grande city. I thought about the snakes and lizards waiting for me in the high grasses.
I concluded i was in the apex of the trip. Perhaps in that equidistant point between Jaguarão and Arroio Grande cities I had found a rare chance of not being able to give up. Alchemical moment where we jams the cowardice and manufactures the courage. The bridge in the rear was destroyed and there were no other way to follow if not follow ahead.

Finally I saw the first lights of the city. A car that came in the contrary direction stopped in the sideroad.
- Go out from the asphalt!
I continued.
- Enter in the sideroad!
It was the car of the road policy.I entered in what something like sideroad. It had hight grass. The car made stocking comes back, stopped and the policemenwas comming from and were i was going to.
- You can practise your sport, but go for the sideroad, not for the road. The cars can catch you. We do not want to join your pieces.

I followed slowly for the sideroad. It was also dangerous to cycle there due to the holes and occult rocks in the hight grass. But in some stretches it was possible to cycle in anarrow band of a the damaged sideroad. Thus I cycled until the entrance of the city where there were the hotel.
Arriving in the hotel the euphoric manager gave me the key of my room
- What an adventure! How it was?
- It was a trip! Where they are my friends?
- They are in its rooms!
- Could you give me a bottle of hot water and a handful of grass tea maté? I want to prepare a good chimarrão.
- It is clearly that we can get it to you!
It was 9:30 PM. I entered in the room, I released the bicycle and I went look for my partners. I beat in the door of the two room.
-There is somebody there?
No reply, all dark inside.
I concluded that or they were individuals with great easiness to sleep or that they fell in sleep due to exhaustion.
I took a bath, drunk the good chimarrão, I ate bread brought from Jaguarão city, and slept.
I had cycled 130 km in that day.

I woke up in the following morning with strokes in the door. The Poti was calling me:
- Let´s go bicycle!
I raised half confused.
- Bicycle? Where? For what?
- Márcia are going to guide us for the agricultural zone of Arroio Grande in her car. We will leave in forty minutes.
It was about eight hours. I took off the bags from my bike and took coffee talking with Gava.
- You slept early isn´t?
- No! We were in a party. Who slept early was you. I arrived at the eight of Jagurão. Marcia a little before. A support car collected her in the half of the way.
- And the Poti?
- He came with me.
In little time I was already cycling with Poti in direction to the center of Arroio grande city where we would meet Márcia.
- And the Gava?
- The Gava will is not going with us.
We found Marcia in her house.
- You follow for RS 602 road. We meet so so 15 km from here, in the locality of “Peleia”. The locality was an abandoning half farm. During all passage i didn´t see no habitation. I was worried about the water.
- Marcia, did you bring water?
She showed a big bottle with water to me.
We entered in a vicinal road that became each time narrower and with more holes; finally it turned in a track and Marcia had to go down of the car and to go walking.

We arrived in a great convex flagstone similar at one calote of an asteroid.
- How is called this place?
- Everyone call “Flagstone”.
From there we come back to RS 602 road, we cycled in return 5 km and we entered in another vicinal road to know the bridge railroad called Mauá. Currently it is not more a railroad bridge, it had its tracks removed and the made changed it in a road bridge.
I came back toward the hotel with 50 km twirled, took bath and I prepared myself for the return.
Before the departure we went in the center of Arroio Grande to lunch. There was an exposition of motorcycles. There were a big black motorcycle, with tow in form of deceased coffin, full of images that made vindication against the use of drugs. Moored in the bank with a coleira it had a black cat.
After the lunch we catch hitchhiking for Pelotas city in a van.
In Pelotas we made a transfer for “the poçante” jeep (poçante = where it stops it makes puddle). We drunk coffee in one of the most traditional coffe-house of the city and we wente to Porto Alegre city.









terça-feira, outubro 24, 2006

Jaguarão e Arredores - Segunda Parte

(in english after the portuguese)



Jaguarão e Arredores - Segunda Parte

Som e imagem de fundo: Los Olimareños

Cheguei na cidade de Jaguarão as 4:30 hs da manhã.
O ônibus parou na estação rodoviária bem em frente à praça central, na face oposta a da Igreja Matriz. Não havia box apropriado, o estacionamento era feito no sentido longitudinal.
Montei a bicicleta e parti para o Uruguai. A temperatura ambiente era de oito graus centígrados conforme meu termômetro de bolso.

Cruzei o rio Jaguarão pelos trezentos e quarenta metros da ponte internacional Barão de Mauá e entrei no centro antigo da cidade de Rio Branco. Pedalei numa estrada que segue pela periferia do centro novo e vai até a aduana. Fui além, passei por um regimento de cavalaria, até um posto de gasolina a uns 8 km da ponte. Para adiante do posto de gasolina aparentemente acabava a zona urbana - que os uruguaios chamam de "planta" urbana.



Voltei pelo mesmo caminho e entrei no centro novo de Rio Branco - que alguns chamam de “Coxilha”.
Nas estradas vi caminhonetas antigas ciculando. Eram da década de cinqüenta e sessenta e me fizeram relembrar minha infância.

Seis horas da manhã, ruas quase desertas, comércio fechado. Encontrei uma padaria aberta em frente à qual havia um estacionamento para bicicletas com três bicicletas bastante antigas encaixadas na estrutura metálica. Estacionei a minha entre as outras e entrei.



A padaria tinha um grande sortimento de pães, bolos e doces. Tomei café com leite e sanduiche, peguei a bicicleta e dei uma perambulada pelas ruas de Rio Branco até a ponte sobre o rio Jaguarão.



Voltei a Jaguarão pelas oito horas da manhã com quase trinta quilômetros rodados em território uruguaio. Procurei um local adequado para dar uma cochilada enquanto esperava o grupo chegar de Arroio Grande.
Encontrei uma praça deserta onde preparei um bivaque sob um pinheiro. Abrigado do vento e sob uma temperatura de doze graus fiquei por ali até as dez horas.



Levantei do catre improvisado, coloquei os apetrechos no alforge e fui fazer compras magras nos free-shoppings do centro histórico de Rio Branco.



Logo depois o Renato Gava telefonou para meu celular avisando que eles estavam chegando.

-Estamos a três quilômetros do centro!

Acertamos um ponto de encontro na praça, fiquei esperando sentado num banco de concreto.
Surgiu um casal de ciclistas de capacete, luvas e bermudas apropriadas numa das ruas que contornam a praça. Eu não conhecia o Renato Gava nem a Márcia, mas certamente eram eles que vinha chegando visto que aparentemente eram raros os ciclistas paramentados circulando por Jaguarão.
Depois de nos cumprimentarmos perguntei pelo Poti.
-Ele está tirando fotografias pelo caminho, logo vai chegar.

O Poti chegou logo depois e fomos para a ponte Mauá, passando antes por uma espécie de forte onde havia um cidadão cheio de energia. Ele nos tentou passar todas as informações turísticas da cidade de forma espraiada e surreal como a copa das figueiras que circundavam o local.



No lado Uruguaio procuramos por um restaurante para comer parrijada. Carne, tripa grossa, glândulas e rins de gado acompanhados de cocha e sobre-coxa de frango assados eram servidos numa travessa térmica de metal.
Comemos aquilo tudo com cerveja pilsen. Os garçons hilários faziam palhaçadas em língua espanhola para agradar os turistas.





Nos alongamos numa conversa sobre gauchadas e aventuras ciclísticas entre outros assuntos satélites. Saímos dali carregados de colesterol. A Márcia estava cansada de pedalar e decidiu voltar logo para Arroio Grande, o Gava quis acompanhá-la. Eu e o Poti resolvemos seguir a programação e conhecer a localidade de Lago Merin, às margens da Lagoa Mirim, a vinte quilômetros de Rio Branco.

Antes do grupo se separar fomos até o centro de Rio Branco. Pelo caminho encontramos um brique no acostamento da UR e uma loja de ciclo-motores usados, muito comuns em Rio Branco.





Pegamos uma longa estrada asfaltada retilínea e plana. Pedalar ali era maçante, nada de atrativo ao derredor. Pouquíssimas habitações, as que haviam pareciam abandonadas. Divagando, distanciei-me do Poti sem perceber. Meu telefone celular tocou.
-Acabou a água, acho que devemos voltar.
-Eu tenho duas garrafas cheias. Estou no Km 10.



Esperei por ele, repartimos a água e seguimos o pedal.
Pedalamos mais um trecho.
- Meu monitor cardíaco está apitando. Acho que devo voltar. Não posso forçar muito. Quero pedalar amanhã.

-Mas só faltam seis km! Não vamos pensar muito no pedal de amanhã. Já está tudo planejado.

Seguimos adiante. Encontramos no caminho um senhor de idade avançada empurrando um pequeno ciclo-motor enferrujado. Vestia uma camisa branca com divisas azuis nos ombros, calça e quepe azuis. Trazia uma faca na cintura.
Achei que ele trabalhasse em algum hotel ou empresa de vigilância.

-Tudo bem com o senhor?
-Tudo bien.
-O senhor tem água? Se precisares temos um pouco.
-Si, tengo água, mejor que a dos senhores.

Mostrou-nos uma garrafa de cachaça com pedaços de bergamota.

-Quieres um poquito?
-Não obrigado, temos de pedalar muito ainda hoje. Porque o senhor usa farda?
-Jo so de la policia!

O Poti definitivamente resolveu voltar.
-Acho que está ficando tarde e não quero chegar de noite em Arroio Grande.
-Mas Poti, falta uns quatro km! Já pedalamos mais de 15!
-Meu monitor está apitando, quero pedalar amanhã, não quero chegar tarde. Fui!

Segui solito. Logo cheguei em Lago Merin. É uma cidadela com infra-estrutura de balneário. Aparenta ser movimentada no verão e quase deserta no inverno.
Fiquei um tempo perto da margem da lagoa onde tirei umas fotos na areia grossa.





Entrei num boteco onde vendiam de tudo um pouco, e que pertencia a um senhor simpático chamado Vasquito.



Falamos sobre as características daquela localidade, ele me deu um adesivo do Clube de Bochas de Lago Merin para colar na bicicleta.
-Preciso ir seu Vasquito, ainda pretendo pernoitar em Arroio Grande, são setenta quilômetros daqui até lá, e já são mais de quatro horas da tarde.

(continua)

Jaguarão and Surroundings - Second Part

I arrived in Jaguarão city at 4:30 AM. The bus stopped in the road station in front of the central square, in the opposing face of the church. It did not have box appropriate for bus, the parking was done in the longitudinal direction. I mounted the bicycle and I left to Uruguay. The ambient temperature was of eight centigrade degrees as my thermometer of pocket. I crossed the Mauá bridge and the old center of the Rio Branco city in Uruguay. I cycled in a road that follows for the periphery of the new center and goes until customs. I went beyond, I passed for a cavalry regiment, until a gas station to ones 8 km from the bridge. For ahead of the gas station aparently finished the urban zone.
I came back for the same way and I entered in the new center of Rio Branco city - that is called also as “Coxilha”. In old roads i saw old trucks. They were of the decade of fifty and sixty and made me to remember my infancy. Six hours of the morning, streets almost desert, closed commerce. I found a bakery opened in front of which it had a parking for bicycles with three very old bicycles incased in the metallic structure. I parked mine between the others and entered.
The bakery had a great assortment of breads, cakes and candies. I took a cup of coffee and ate a sandwich, I caught the bicycle and I gave one rambled for the streets of Rio Branco until the bridge on the Jaguarão River.
I came back to Jaguarão for the eight hours of the morning with almost thirty kilometers twirled in Uruguayan territory. I looked an adjusted place to sleep a little while I waited the group to arrive from Arroio grande city. I found a square desert where I prepared a bivouac under a pine. Sheltered of the wind and under a temperature of twelve degrees I stayed there until the 10 AM.
I raised from the improvised bed, I placed equipment in bags and went to make lean purchases in free-shoppings of the historical center of Rio Branco city in Uruguay.
Soon the Renato Gava telephoned to my cellular phone informing that they were arriving.
- We are the three kilometers of the center!
We make right a point of meeting in the square, I was waiting seated in a concrete bank. Appeared a couple of ciclistas of helmet, appropriate gloves and shorts in one of the streets that skirt the square. I did not know neither Renato Gava nor Márcia, but certainly they were they who were arriving since that aparently the apropriated weared bicycler are rare circulating for Jaguarão city. After complimenting them I asked for Poti.
- It is taking off photographs for the way, then he goes to arrive.
Poti arrived soon and we went for the Mauá bridge, passing before for a species of fort where there was a citizen full of energy. He tried topass us all the tourist information of the city in a large and surreal form as the pantry of the figueiras trees that surrounded the place.
In the uruguayan side we look for for a restaurant to eat parrijada food. Meat, thick gut, glands and kidneys of cattle folloied of leg and baked on-thigh of chicken were served in a thermal metal crosspiece. We eat that everything with beer pilsen. The funny waiters said jokes in portunhol language to please the tourists.
In the restaurant we talked too much a prolongated colloquy about braveries and cycling adventures and satellites subjects . We leave the restaurant loaded of cholesterol. Márcia was tired of cyclingr and decided to come back soon toward Arroio Grande city, and Gava wanted to follow her. Poti and I decided to follow the programming and to know the locality of Lago Merin, in the edges of the Lagoon Mirim, twenty kilometers from Rio Branco. Before the group separating we went until the center of Rio Branco. For the way we find one seller in the UR road and a store of used mopeds, very common in Rio Branco.
We catch a long rectilinear and plain tarred road. To Cycle there was dulling, nothing attractive around. Very little habitations, the ones that existed seemed abandoned. Thinking in life, I got some distance from Poti without perceiving. My cellular telephone touched.
- Finished the water, I think that we must come back.
- I have two full bottles. I am in km 10.
I waited for him, we shared the water and we followed the pedal.
We cycled more a stretch.
- My cardiac monitoring is whistling. I find that I must come back. I cannot force very much. I want to cycle tomorrow.
- But only lack six km! We don't must to think very much about the pedal of tomorrow. It is already planned.
We followed ahead.
We found in the way a gentleman of advanced age pushing a small rusted moped. he dressed a white shirt with verge blue in the blue shoulders, pants and hat. He had a knife in the waist. I found that he worked in some hotel or company of insurance.
- All good with Mr.?
- Everything good!
- The gentleman has water? If you need we have a little.
- I have water, bethen than yours
He showed us a bottle od fire water mixed with pieces of tangerine.
- Do you want a little?
- Not, thank you. We have of cycle a lot today. Why do you wear this uniform?
- I am a policeman!
Poti definitively decided to come back.
- I think that it is being late and I do not want to arrive at night in Arroio Grande.
- But Poti, lacks only four km! We cycled more than 15 yet!
- My monitor is whistling, I wanna to cycle tomorrow, And i don´t want to arrive late. So I am returning.
So I followed alone. Soon I arrived in Lago Merin, a small city with health-resort infrastructure. It makes look like to be crowed in summer and empty in winter. I stopped a time close to the edge of the lagoon where I took off photos in the thick sand.
I entered in one bar where they sell little of everything, and a man called Vasquito, a likeable gentleman, was the owner. We spoke about on the characteristics of that locality, he gave me an adhesive to me of the Club of Bochas of the Merin lacoon to glue in the bicycle.
- I need go Mr Vasquito. I intend to spend the night in Arroio grande today. there are seventy kilometers to cycle from here until there, and it is more than 4 PM yet.

(it continues)




segunda-feira, outubro 23, 2006

Jaguarão e Arredores - Primeira Parte

(in english after the portuguese)

Jaguarão e Arredores - Primeira Parte



Antes do relato vamos falar um pouco sobre o título e a descrição do blog.

O título “perpedalando” foi criado a revelia da língua portuguesa para expressar a filosofia desse blog.

Perpedalando significa “percorrer pedalando” ou melhor, "percorrer andando de bicicleta"

É a mescla de "percorrer" com "pedalar"

Percorrer significa "correr ou andar por; visitar em grande extensão ou em vários sentidos"(Dicionário Aurélio)

Pedalar significa "andar de bicicleta" (Dicionário Aurélio)
Apesar do dicionário Aurélio também fazer essa definição, é sabido que nem todo aquele que pedala anda de bicicleta e nem todo aquele que anda de bicicleta pedala (ver afiadores e caroneiros)

Pago significa "o lugar natal; o rincão, a querência, o povoado, o município onde alguém nasceu e/ou onde reside" (Dicionário Aurélio)

O "pago" na descrição "percorrendo os pagos de bicicleta" está no plural.
Pago no plural - pagos - tem conotação universal.

Se estivesse no singular - pago - os pedais de que trata esse blog ficariam restritos a um determinado lugar.

Para concluir:

Se os pagos fossem percorridos de carro ou de a pé os termos mais corretos seriam “perdirigindo” ou “percaminhando” respectivamente.

Se os pedais fossem feitos ao acaso, sem estratégia e preparo, o termo mais correto seria "perambulando"


Depois da última viagem a Ernesto Alves eu adquiri um alforge e uma modesta máquina fotográfica com tripé. Estava aguardando o momento para experimentar esses novos equipamentos e percorrer os pagos novamente quando o Poti, proprietário do blog pedivela sugeriu uma viagem para Jaguarão-RS:

- Vamos eu e o Gava, colega de profissão. Partiremos de Porto Alegre no dia 19, quinta-feira, no “poçante”, até Pelotas. Ali deixaremos o jipe (o "poçante") numa garagem e rumaremos para Arroio Grande na sexta-feira de manhã. Em Arroio Grande a amiga Márcia se incorporará ao grupo, e no sábado pela manhã pedalaremos até Jaguarão. Visitaremos a lagoa mirim e retornaremos a Arroio Grande no mesmo dia. Domingo teremos duas alternativas: ou pedalamos de volta para Pelotas ou vamos conhecer a zona rural de Arroio Grande para depois pegarmos carona até Pelotas numa van.

- Tudo bem, só que não poderei sair na quinta-feira, encontro vocês em Jaguarão no sábado pela manhã.

- Legal! Vou reservar hotel para nós três em Arroio Grande!

Sexta-feira, onze horas da noite saí pedalando pelas ruas de Porto Alegre. Chegando na estação rodoviária retirei a roda dianteira e ensaquei a bicicleta com alforge e bolsa de guidom acoplados. Coloquei a bicicleta embalada sem problemas no bagageiro do ônibus da empresa Frederes e parti à meia-noite rumo a Jaguarão.

Num pedal existem itens básicos que não podem ser esquecidos, como é o caso de certas ferramentas. Em se tratando de outros itens, como vestuário, cada ciclista tem sua peculiaridade e leva consigo o que for mais apropriado.
Eu levava material suficiente para dois dias de pedal, conforme tabela abaixo.
A tabela é pessoal e baseada na experiência própria, facilita os preparativos para passeios e viagens.

BAGAGEM PARA CICLOTURISMO

VESTUÁRIO PARA VIAGENS 1 dia /2 dias /3 ou + dias
Bermuda comum 0/ 2/ 3
Bermuda de ciclista 1/ 2/ 2
Boné 0/ 0/ 1
Calça de abrigo 0/ 1/ 1
Camisa branca de manga 0/ 1/ 2
Camiseta comum 0/ 2/ 3
Camiseta de ciclista 1/ 1/ 1
Capacete 1/ 1/ 1
Chinelo de dedos (par) 0/ 1/ 1
Cuecas 1/ 3/ 4
Jaqueta impermeável 1/ 1/ 1
Lenço de cabeça 1/ 1/ 1
Luva de ciclista 1/ 1/ 1
Moletom 0/ 1/ 1
Óculos de proteção UV 1/ 1/ 1
Par de meias 1/ 3/ 4
Tênis 1/ 1/ 1
Toalha média 0/ 1/ 1

FERRAMENTAS Cidade/ Viagens/Agreste(1 dia)
Câmara 1/ 2/ 2
Bomba de ar 1/ 1/ 1
Canivete 1/ 1/ 1
Chave allen completa 1/ 1/ 1
Chave de raio 0/ 1/ 1
Fita isolante 0/ 1/ 1
Kit para remendos 0/ 1/ 1
Óleo para corrente 0/ 1/ 1
Par de espátulas 1/ 1/ 1
Pneu reserva sem arame 0/ 1/ 1
Pedaço de pano para limpeza de corrente 0/ 4/ 1

FARMÁCIA Cidade/ Viagens/ Agreste (1 dia)
Band-aid 0/ 5/ 5
Barra de cerais 0/ 2/ 2
Purificador de água(un) 0/ 1/ 1
Mariola 0/ 5/ 5
Metoclopramida (fr) 0/ 1/ 1
Paracetamol (bl) 0/ 1/ 1
Pomada calminex 0/ 1/ 1
Protetor solar 0/ 1/ 0
Reidratante oral 0/ 1/ 0
Tala elástica 0/ 1/ 1
Termômetro 0/ 1/ 0

OUTROS Cidade/ Viagens/ Agreste (1 dia)
Alforge 0/ 1/ 0
Aparelho de barbear 0/ 1/ 0
Apito 0/ 1/ 1
Bolsa de bagageiro 1/ 0/ 1
Bolsa de guidom 0/ 1/ 0
Bússola 0/ 1/ 1
Caneta 1/ 1/ 1
Ciclocomputador 1/ 1/ 1
Corda extensoras 1/ 3/ 1
Corrente de segurança 1/ 1/ 1
Cuia e bomba de chimarrão 0/ 1/ 0
Desodorante 0/ 1/ 0
Diário 0/ 1/ 0
Escova de dentes e pasta 0/ 1/ 1
Farolete 1/ 1/ 1
Mala-bike (saco grande) 0/ 1/ 0
Mapa 0/ 1/ 1
Máquina Fotográfica com tripé 0/ 1/ 1
Papel higiênico 1/2 rolo 0/ 1/ 1
Pente 0/ 1/ 0
Pochete 0/ 1/ 1
Sabão de coco (barra pequena) 0/ 1/ 1
Saco plástico pequeno 1/ 2/ 1
Telefone Celular 0/ 1/ 1

OBS:
1) Planilha pessoal
2) Vestuário para viagens de verão
3) Vestuário inclui todas as vestes, inclusive a do momento da partida
4) Agreste (1 dia) : campo, serra, mato, locais ermos

(continua)


JAGUARÃO AND SURROUNDINGS

Before begin the story let´s go to say a little about the name of my blog.
The term “perpedalando” was created by the default of the portuguese language to express the philosophy of this blog. "Perpedalando" means “to cover a distance cycling”. If the the distance was covered by car or of by the foot, the term most correct would be “perdirigindo” or “percaminhando” respectively.

After the trip to Ernesto Alves I acquired a bag to bicycles and a modest photographic machine with tripod. I was waiting for the moment to test these new equipment and to cover the land ones again when the Poti, proprietor of blog www.pedivela.blogspot.com suggested a trip for Jaguarão-RS:

- I and the Gava, a workmate, let´s go there. We will leave of Porto Alegre city in the day 19, thursday in the “poçante” until Pelotas city. There we will leave the jeep (the "poçante") in a garage and will follow to Arroio Grande city in the friday morning. In Arroio Grande the Márcia friend will become incorporated itself in the group, and in saturday morning we will cycle until Jaguarão city. We will visit the lagoon mirim and we will return to Arroio grande in the same day. Sunday we will have two alternatives: or we are going to cycle to Pelotas city or we go biking to know the zone agricultural of Arroio Grande and later later catching hitchhiking until Pelotas city in a van.

- All right, but I will not be able to leave in the thursday, I can meet you in Jaguarão in saturday morning.

- Greatl! I will reserve the hotel for three in Arroio Grande!

Friday, 11 pm I was cycling in the streets of Porto Alegre city. Arriving in the road station I removed the front wheel and bagged the connected bicycle with bags and stock market of guidom. I placed the bicycle without problems in the baggage compartment of the bus of the Frederes company and followed to Jaguarão city at mid night.
I was carrying enough material for two days of in agreement with the tabel that is good to facilitate the preparatives. There exist basic materials that tools can not be relegated, especially some tools, but is clearly that for others itens, as clothes, each cycler have its peculiarity and carry what they want. The tabel that I elaborated is personal and is based on the proper experience.

(it continues)