quinta-feira, novembro 16, 2006

Viamão e a "Arte de Viajar"

(in english after the portuguese)

O meu olhar é nítido como um girassol
Tenho o costume de andar pelas estradas
Olhando para a direita e para a esquerda,
E de vez em quando olhando para trás...
E o que vejo a cada momento
É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
E eu sei dar por isso muito bem
Sei ter o pasmo essencial
Que tem um a criança se, ao nascer,
Reparasse que nascesse deveras...
Sinto-me nascido a cada momento
Para a eterna novidade do Mundo...

(Fernando Pessoa, Ficções do Interlúdio. p. 15)

Viamão e a "Arte de Viajar"

No livro "A Arte de Viajar" Alain de Botton cita viagens feitas por Alexander von Humboldt (Viagem às regiões equinociais do novo continente) e por Xavier de Maitre (Viagem pelo meu quarto)

A primeira exigiu dez mulas, uma bagagem composta de trinta peças, quatro intérpretes, um cronômetro, um sextante, dois telescópios, um teodolito Borda, um barômetro, uma bússola, um higrômetro, cartas de apresentação do Rei da Espanha e uma arma de fogo. A segunda, um par de pijamas de algodão rosa e azul (A Arte de Viajar - Alain de Botton)

Mais adiante ele prossegue dizendo que "se ao menos conseguíssemos aplicar uma disposição mental de viajante a nossos próprios locais, poderíamos descobrir que esses lugares se tornam não menos interessantes que os passos em altas montanhas e as selvas repletas de borboletas da América do Sul de Humboldt"

Botton conclui com uma citação de Nietzsche:
Quando observamos como algumas pessoas sabem gerir suas experiências - suas experiências insignificantes, do dia a dia - de tal modo que elas se tornem um solo arável que produz frutos três vezes ao ano, enquanto outras - e como são numerosas! - são arrebatadas pelas grossas ondas do destino, pelas correntes mais multifacetadas dos tempos e das nações, e ainda assim estão sempre à tona, como uma rolha de cortiça, acabamos sendo tentados a dividir a humanidade numa minoria (ínfima) dos que sabem extrair muito do pouco e uma maioria dos que sabem extrair pouco do muito.

Procurando encontrar significado na mensagem de Alain de Botton, fui em outro ciclopasseio até Viamão (RS) e o distrito de Águas Claras.
Eu acreditava que praticar cicloturismo por lá seria insosso. Apesar de todo seu potencial turístico, Viamão é considerada apenas uma cidade dormitório.

Devido à rotina e aos pensamentos repetitivos normalmente deixamos de perceber o mundo que nos cerca nas suas várias dimensões. Nossa visão seria direcionada para aquilo que nos interessa e o restante do todo ficaria transparente, como a água ou o ar - insosso e inodoro. O que não é focalizado cai nas trevas dos sentidos.
Seguindo essa linha de raciocínio poderíamos ao final concluir que nosso universo consciente é o reflexo daquilo que pensamos e que a fé remove mesmo montanhas.

Por coincidência, assim que terminei de ler o livro, o seu Pedro Marcon me telefonou na manhã do feriado de quarta-feira.

-Vamos pedalar?
-Onde?
-Que tal até o Lago Tarumã, no centro de Viamão?
-Apesar de ter estado em Viamão mais de quatrocentas vezes nunca fui no lago. Passo aí às 14 hs.

Encontrei o seu Pedro num jardim, à sombra de um pé de umbu para fugir do calor. Cheguei suado e tomei dois ou três copos d'água de cacimba. A água gelada e o ambiente úmido das pedras cobertas de limo foi um bom refrigério.



Era cerca de duas horas da tarde quando iniciamos o pedal a caminho do Lago Tarumã.
Potente sol a pino, raios de um outro sol, que pareciam atravessar o pífio fator 15 do meu protetor solar; coisas relacionadas ao enfraquecimento da camada de ozônio em era de mudanças climáticas.
Logo no início pedalamos numa rua com bastante sombra, lugar aprazível.



A descoberta do novo no velho começou por aí, achei que nunca tinha passado por aquela rua quando na verdade já tinha passado por ali noutras ocasiões da vida. Mas daquelas outras ocasiões eu ia carregado de peso e olhava para baixo e para outros objetos; as árvores e suas sombras passaram desapercebidas.

Da rua sombreada até Viamão fui pensando nos diversos aspectos da vida, o pedal passou em branco e distante do parceiro. Acordei em frente da vetusta igreja branca Nossa Senhora da Conceição como que atraído pelo sacrário. Nunca me canso de ver aquela igreja, e não é por acaso que essas naves me atraem.



Para se ter o espírito de viajante que nos fala Button devemos nos empenhar para ver o mundo em todos os prismas, para isso é necessário abandonar hábitos mentais esvaziando a mente de idéias cristalizadas e preconceitos. Com a mente vazia, procurei ver aquilo que já tinha visto e também o que havia se tornado invisível.

-Vamos para o lago!

Entramos por novas ruas dentro do centro antigo. Paralelepípedos e uma longa descida que me levou a duvidar da razão e pensar que não estava pedalando em Viamão. Por um instante achei que estava descendo a serra.
Lá em baixo uma estrada de terra e um lago grande e bonito demais para eu não ter percebido a sua existência nesses anos todos.

Alamedas de árvores nativas ao derredor, estradas sinuosas de chão batido feitas para um passeio bucólico, gentes pescando e nadando. Sombra e mais sombra de arvoredo, cheiro d’água, pequenas represas transbordando marrequinhas com um verde fosforescente, Tudo isso cabia ali, no centro da cidade que eu julgava conhecer bem demais.

-Vamos para a casa dos padres!

Subimos uma lomba até a RS 118 onde ficava o Abrigo e Centro Educacional João Paulo II. Seu Pedro disse que era amigo do irmão. Entramos portão adentro, uma turma de guris pedalantes, cada qual com sua bicicleta veio nos recepcionar.

-Tio! De onde vocês vêm? Para onde vocês vão.
-Estamos indo para Águas Claras. Vocês moram aí?
-Sim, e é bem legal de morar aqui.

Admiro o trabalho do irmão e da irmã. Que altruísmo, cuidar dessa gurizada sem eira nem beira. Que Deus os acompanhe.

-Vamos para Águas Claras.

Outro pedal sonhador. Até a estrada ajudou no devaneio. Sol forte, em direção à praia. Até parece que iríamos parar no mar.



Acordei na fábrica artesanal de facas e quadros onde seu Pedro parou para pegar uma pexeira que havia encomendado com o seu Valter.
Entramos na fabriqueta onde havia uns xirus no batente e umas facas reluzentes de amostra no balcão. Eu estava vestindo bermudas e camisas largas, por isso não chamei tanta atenção quando falei alto para o seu Pedro devido ao barulho do esmirilho.

-Olha a faca!!!

Depois de colocada a faca na bota seu Pedro lambeu os beiços, sol na cara. Pensei numa ceva gelada.

-Vamos pegar umas geladas para tomar com o pessoal da Ponta do Aterro.

Num boteco de beira de estrada compramos salame e queijo, enchi a sacola de skol. Saímos correndo para evitar o degelo das geladas.



Nas proximidades de Ponta do Aterro matamos a sede e fizemos umas trilhas a pé num mato desconhecido. O seu Pedro estava pensativo.

-O que foi?
-Tô com saudade da véia. Vamos indo que estamos de bike!

Eram seis horas da tarde, largamos as garrafas vazias no boteco. Em quatro horas eu já tinha descoberto um mundo paralelo. E seu Pedro queria pedalar pesado.

-Vamos nessa! Agora só paro em casa!

-Slow ride! Take it easy!



Dados numéricos:

Distância pedalda: 75 km
Vm:19 km/h


Viamão city and the “The Art of travel”

In the book “the Art of Travel”, Alain de Botton talk about the trips made for Alexander von Humboldt (Trip to the equinoctial regions of the new continent) and for Xavier de Maitre (Trip for my room) The first one demanded ten mules, a composed luggage of thirty parts, four interpreters, a chronometer, a sextant, two telescopes, a teodolito Edge, a barometer, a compassing, one higrometer, letters of introduction of the King of Spain and a firearm.The second, a pair of pyjamases of pink and blue cotton. (The Art To travel - Alain de Botton)
Ahead he continues saying that “if at least we obtained to apply a mental disposal of traveller to our proper places,we could discover that these places would become not less interesting than the steps in high mountains and the forests full of butterflies of the South America of Humboldt
Botton concludes with a citation of Nietzsche:
When we observe as some people know to manage its experiences - its insignificant experiences, day to day - in such way that they become one ground arable that produces fruits three times to the year, while others - and they are numerous! - they are carried by the thick waves of the destination, for chains most multifaceted of the times and the nations, and still thus they are always to up, as a cork oak, we finish being attemped to divide the humanity in a minority (lowermost) of the ones that know to extract very of little and a majority that know to extract little of very much.Looking for to find meant in the message from the Alain de Botton, I went in another cycle stroll until Aguas Claras and Viamão city.
I believed that already I knew sufficiently regarding that city and that to practise ciclotourism for there could be untaste and boring. In addition Viamão is a city dormitory, although the tourist potential. I thought that, due to the repetitive acts, normally we stop perceiving the world in its many dimensions. Our vision would be directed for what we have interest in, sothe rest remains transparent, untaste as the water or odourless like pure air.
Following this line of reasoning we could conclude that our universe is the consequence of what we think and that the “faith removes mountains”. For coincidence its Peter telephoned me in the morning of thursday.
- let´s go cycle!?
- Where?
- What about until the Lake of Tarumã, in the center of Viamão city?
- Despite having been in Viamão more than four hundred times I never I went in the lake. Let´s go! Met you 2 PM.
I found Mr Peter in the garden, to the one shade umbu tree, to keep cold from the heat. I arrived sweated and I took two or three water cups of a good water. The frozen water and the humid environment of the wet rocks were a good thing to keep the hot distant.
It was about 2 PM when we initiate the pedal to Lago Tarumã. Powerful sun the bolt. Sun rays that seemed to cross the factor 15 of my sunner protector; things related to the weakness of the ozone layer in age of climatic changes.
Soon at the beginning we cycled a street with sufficient shade, nice place. The discovery of the new in the old one started for there,I thought i had never passed for that street when in the truth I already had passed by there in other occasions of the life. But of those other occasions I went loaded of weight and I looked at to low eand to other objects; the trees and its shades had passed unfurnished.
From the street shaded until Viamão I was thinking about the diverse aspects of the life, the pedal and surroundings passed in blank and distant of the partner. I woke up in front of the very old white church with attracted by the sacrarie. I never get tired myself to see that church, is not by chance that the church attract me. To have the traveller spirit that says Button we must in pledging to see them the world in all aspects, for this it is necessary to abandon mental habits emptying the mind of ideas and preconceptions. With the empty mind, I looked for to see what already it had seen and what it had never seen in the city of Viamão.
-Let´s go to the lake!
We took new streets in the old center of Viamão city. Parallelopipeds and a long descending that took me to doubt my reason and to think that it was not cycling in Viamão. For a few seconds I thouight that it was cycling in the mountain range. Back in low a land road and a pretty lake great e excessively to me not have perceived its existence in all these years. Tree-lined avenues of native trees to around, sinuous soil roads beaten made for a bucolic strolls, people fishing and swimming. Shade and more shade of trees, smell of water, small dams overflowing vegetables with a light green. Everything was fit there, in the center of the city that I judged to know very well.
- Let´s go for the house of the priests! We went up one climb until RS 118 road where it was the shelter João Pablo II. Its Peter said that he was friend of the brother. We enter by the gate, a group of cycling little boys, each one with its bicycle came to give us wellcome
- Uncle! Where are you comming from? Where are you going to?
- We do not know exactlly. We are going for Clear Waters district. Do you all live here?
- Yes, we do, and it is nice to live here. The sister adoptive mother of all the little boys took our photograph.
I admire the work of the brother and the sister. That altruism, to take care of of thata boys without home. Lord help them!
- Let´s go to Clear Waters district!
Another dreaming pedal. Also the road it helped in the dream. Strong sun, in direction to the beach. Sometimes it seemed that we was going to stop in the sea. I woke up in the artisan factory of knives where Mr Peter stopped to catch a “pexeira” that had ordered with Mr Valter. We entered in the small factory where the guys were in the jamb and there were some beautiful knives as sample in the balcony. I was dressing wide bermuda shorts and shirts, therefore he was not so ugly when I spoke high to Mr Peter due to the racket of “esmirilho’.
- Looks the knife!!
After placed the knife in the boot its Peter licked the lips, sun in the face. I thought about a frozen fattening.
- Let´s go to pass in bar to catch ones frozen beer to take with the staff of the “Tip of Aterro” district. In bar that never I had been I bought sausage and cheese and I fulled the bag of skol beer; we leave running to prevent the thawing of the frozen one.
In the neighborhoods of Tip of Aterro we drunk the beer and made tracks by foot in unknown weeds. Mr Peter was thoughtful.
- What happened?
- I am missing my wife. Let´s go, because we are here by bicycles, not by car.
It was 6 PM, we released the empty bottles in bar.I already had discovered the parallel world. Mr Peter wanted to cycle heavy.
- Let´s go now! I will only stop at home!
- Slow ride! Take it easy!

Numerical data:
Distance cycled: 75 km
Vm: 19 km/h

sexta-feira, novembro 03, 2006

Vila Itapuã

(in english after the portuguese)

Vila Itapuã

No feriado de finados fui com o seu Pedro Marcon até a Vila Itapuã em Viamão-RS.
Motorista aposentado, pintor, apaixonado primariamente por cicloturismo, nos seus sessenta e poucos anos de vida o seu Pedro diz que já pedalou algo em torno de quarenta mil quilômetros.

Provavelmente devido à sua segunda grande paixão - as pedras - seu Pedro é também chamado de “Pedrão” pelos parceiros de ciclismo.
Nos passeios e viagens de bicicleta ele pedala esquadrinhando o chão e beiras de estrada em busca de pedras atrativas - principalmente as redondas e lisas.
Diz que sempre traz uma pedra de recordação de todo lugar por onde pedala. Logo pedras! Um objeto normalmente pesado e por isso mesmo difícil de transportar na bicicleta!

Tive o privilégio de conhecer os quadros e o belo jardim “pedrido” do seu Pedro, onde ele organiza cuidadosamente as pedras recolhidas em décadas de pedal.
Sem cerimônias ele orgulha-se do que faz e não faz segredo de suas paixões. Portanto, me autorizou a publicar algumas fotos neste blog.



(Seu Pedro)


Encontrei o seu Pedro às oito e meia da manhã de quinta-feira naquele jardim. Ele estava regando as pedras para preservar o musgo e deixá-las com um tom esverdeado.
Prontos para o pedal, rapidamente pegamos as bicicletas e partimos para Viamão.

Pedalamos lentamente até a estrada que vai para Itapuã no entroncamento da RS 40 com a RS 118. Ali entramos na chamada estrada do Fiúza e logo mais adiante na estrada Cel Acrísio Prates, que vai até as proximidades da Vila Itapuã.







Depois de vinte e poucos quilômetros pedalados naquela estrada de terra entre sítios, chácaras e fazendas, com pequenos açudes, campos, algumas casas antigas e figueiras nativas no costado como a nos observar e nós a observá-las, parei perto de uma figueira.
Não parei por cansaço e sim porque a paisagem era atraente; vínhamos com uma velocidade média de 15 km/h somada a algumas paradas para fotografias.
Encontrei seu Pedro logo mais adiante num bolicho de beira de estrada que ainda preservava no balcão uma daquelas balanças com ponteiro que fez relembrar minha infância.

Eu já tinha pedalado quatro vezes naquele trecho da estrada. Tinha ido de bicicleta até a Vila Itapuã quatro vezes, duas das quais havia pedalado até a localidade de Varzinha, às margens da Lagoa dos Patos. Mas cada pedal é diferente do outro embora a paisagem seja a mesma.
A variação é definida pelo estado de espírito, preparo físico, equipamento e parceria entre outros fatores.
Dessa vez achei a estrada e o tempo curtos e cheguei mais rápido e descansado do que das outras vezes, apenas estava com fome.

Era onze e meia da manhã, fomos direto ao restaurante Calunas que fica atrás da Igreja Nossa Senhora dos Navegantes. Prato do dia, duas garrafas de cerveja, picolé. Estávamos prontos para passear a pé no terreno arenoso ao largo da praia.



Havia pouco movimento na vila. Pensei em dar uma volta de barco, mas o passeio somente seria realizado às 15 hs, isso se tivesse no mínimo oito participantes. O custo do passeio de duas horas é vinte reais.

O seu Pedro é muito comunicativo. Fala alto e bastante. Depois de um bom tempo na sombra das árvores, conversamos com alguns moradores sobre os morros ao derredor.

Chamou-me atenção os juncos que crescem na areia e dentro d’água. Um pouco de cerveja pode ter desencadeado a tendência natural de procurar fotografar o surreal. Entrei na água e molhei os tênis para capturar imagens dos juncos e depois aprisioná-las como plano de fundo do monitor de um computador.





Eu gostaria de pedalar até a praia das pombas no Parque Estadual de Itapuã, mas segundo informações é proibido andar de bicicleta lá dentro. Portanto decidimos voltar para Porto Alegre.
No trecho que liga a vila de Itapuã ao Lami o seu Pedro mostrou seu lado velocista: pedalou com uma velocidade média certamente superior a 30 km/h .
Como normalmente pedalo com 60% do potencial, fiquei para trás o suficiente para não perdê-lo de vista.



Entramos numa estrada secundária que vai até o Lami, uma estrada de terra, vazia, quase plana, que me fez recordar o trecho da BR 116 entre Jaguarão e Arroio Grande.
Encontrei seu Pedro na areia.
-Vamos tirar fotos mais adiante.
Rapidamente passou um pontilhão e desapareceu pedalando.
Eu vi uns barcos encalhados ali perto do pontilhão e sentei um pouco fora do selim para descansar.
Mais adiante tiramos fotografias entre a vegetação abundante da beira do estuário. Haviam algumas pessoas por ali, provavelmente moradores do Lami. Ninguém dentro d’água, apesar do sol forte a água estava gelada.
-Vamos tomar um suco no suco!



O seu Pedro continuou pedalando forte até o “suco”. O que me chamou atenção foi o fato dele pedalar até nas descidas leves, mesmo sem vento contra ou rodas travadas. Eu segui atrás procurando não forçar muito o pedal, sempre mantendo aquela percentagem estratégica de limite de esforço.
Enfim chegamos ao “suco”, a famosa fruteira na beira da estrada que liga o bairro Restinga ao Lami e que todo integrante das listas de discussão do yahoo “bike-rs” e “poabikers” conhece.

Sempre muito comunicativo, depois de recuperar o fôlego, o seu Pedro começou a falar para uma platéia curiosa ao ver aquele senhor de cabelos brancos, vindo de não se sabe onde, suado e vestindo roupas de ciclista.
- Pedalei pelo Uruguai, Argentina e nordeste brasileiro. Está tudo no site do Inema... Vamos subir a serra do corvo branco e esse meu parceiro vai junto!
- Puxa! É mesmo?!

Essa expressão de espanto deve ter sido por causa da minha reserva lipídica na região umbilical. Uma reserva dessas é bastante útil nos casos de pedais de longa distância através do agreste onde abunda água e falta alimentação.

Saímos do “suco” a alta velocidade, o seu Pedro sempre na frente.
- Vamos para a usina do gasômetro!
- Boa idéia.Vamos por Ipanema!
- Não, vamos pelo Teresópolis!

Na Avenida Eduardo Prado ouvi um “plac plac plac” que vinha de uma das rodas da Volare.
- Vou parar! Pelo barulho deve ser alguma pedra presa nos grampos do pneu.

Para o ciúme do seu Pedro era mesmo uma pequena pedra, redonda e lisa. Ele sente atração por pedras desse tipo, e as pedras estavam sendo atraídas por mim.

Entramos na avenida Cavalhada a mais de 30 km/h, eu no vácuo do seu Pedro. Nesse ponto não havia mais paisagem nem razão para poupar esforço. Libertei os 40% restantes do potencial e o seu Pedro sumiu para trás em poucos minutos.
Pedalei forte e girei rápido até o bairro Teresópolis onde parei para esperar o seu Pedro. Comprei um refrigerante e sentei num degrau da calçada sob a sombra de um poste de luz.
Esperei o seu Pedro uns 15 min e decidi seguir até o gasômetro. Provavelmente ele havia entrado na Avenida Dr Campos Velho até a Avenida Icaraí.

Por volta das quatro horas da tarde encontrei o seu Pedro nas proximidades da Usina do Gasômetro junto com um grupo de ciclistas. Lá estava o velho parceiro de pedal Rodrigo Santos, que eu não via há bastante tempo.
- Fiquei meses em Criciúma!

Tiramos fotografias para a posteridade e acertamos pedais futuros. O seu Pedro queria ficar com as fotos do passeio.
- Vamos até o centro comprar um cd virgem.

Passamos pela 52° Feira do Livro, apinhada de gente e livros. Nas proximidades do mercado público adquirimos um cd com os camelôs.

Atravessamos o parque da redenção e pedalamos lentamente até o sofá de casa onde tomamos uma serramalte gelada e combinamos um almoço para o fim de semana: peixe frito em disco de arado no galpão/museu do seu Pedro.



Dados numéricos do pedal:

Total pedalado: 113 km

Vm ida: 15 km/h

Vm volta: 25 km/h

Vm total: 20 km/h



Itapuã Village

In the holiday of deceased I went with Mr Peter Marcon until Itapuã Village in Viamão-RS city. Retired truck driver, painter, gotten passionate firstlly for cyclotourism, in its sixty and few years of life Mr Peter says that already cycled around forty a thousand kilometers.
For obvious reasons, probably due to its second great passion that are rocks - Mr Peter also is called “Big Peter” for the cycling partners. In the strolls and trips of bicycle he cycles investigating the soil and roadsides in search of attractive rocks - normally round and the smooth ones, or with some quaint format. He says that always brings a rock of memory from all place for where he cycles. Just rocks! Heavy and a normally difficult object to carry in bicycles!
I had the privilege to know Peter’s pictures and his beautiful garden, where he carefully organizes the rocks collected in decades of pedal. Without ceremonies he is proud of what he makes and does not make secret of its passions. Therefore, he authorizeed me to publish some photos in blog perpedalando.
I met Mr Peter 8:30 AM in that garden. He was watering the rocks to preserve the moss that leaves them with a green tone. Ready for the pedal, quickly we took the bicycles and we went to Viamãocity. We cycled slowly until the road that goes for Itapuã in the meeting of RS 40 with RS 118 roads. There we entered in the called “road of the Fiúza” and some time more in the road Cel Acrísio Prates, that leads until Itapuã village.
After twenty and few kilometers cycled in that land road between small farms, mansions and farms, with small dams, native trees, eucaliptos trees, some old houses as they were observing us as we were observing them I stopped in a fence to look at the surrounds. I did not stop for fatigue and yes because the landscape was attractive; we came with an average speed of 15 km/h added to some stops for photographs. I soon found Mr Peter ahead in a bar of roadside that still preserved in balcony one of those scales with hand that made me to remember my infancy.
I already had cycled five times in that stretch of the road. I had gone by bicycle until Itapuã village four times, two of which I had cycled until the locality of Varzinha, in the edges of the Lagoon of the Ducks.
Each pedal is different of the other even so the landscape is the same one. The variation is defined by the state of spirit, physical preparation, equipment and partnership among others factors. In this time I found the road and the time short and arrived faster and resteder than in the other times, I only was hunger in this time.
It was 11:30 AM, we were direct to the Calunas restaurant that is behind the Church Ours Lady of the Navigators. Food of the day, two bottles of beer, ice cream. We were ready to walk by the foot in the arenaceous land to the plaza of the beach. There were little movement in the village. I thought about make a boat trip, but would only have a stroll to the 3:00 PM if it had eight participants at least. The cost of the stroll of two hours is twenty reals.
Mr Peter is a very talking person. He speaks high and sufficient. After a good time in the shade of the trees, we talked with some inhabitants about the mounts that had around.
Called me attention the rushes that grow inside in the sand and water. A little of beer can have unchained the natural trend to look for to photograph the surreal. I entered in the water and I wet the tennises to capture images of the rushes and later imprisoning them in the deep one of screen of a computer.
I would like to cycle until the “beach of the doves” in the state park of Itapuã, but as information are forbidden to cycle inside the park. Therefore we decided to come back toward Porto Alegre.
Mr Peter showed its velocist side and developed at least 30 km/h of average speed in the stretch that binds the village of Itapuã to the Lami locality. As normally I cycle with 60% of the potential, I was in backwards the sufficient to not lose Mr Peter of sight.
We entered in a secondary road that goes until the Lami, a land road, empty, almost plain, that made me to remember the stretch of BR 116 between Jaguarão and Arroio Grande cities. I found Mr Peter in the sand.
- Let’s go take off photos more ahead.
Quickly he passed a smal bridge and it disappeared cycling. I saw boats aground close to the small bridge and seated a little there to rest from the seat of my bicycle. More ahead we take off photographs between the abundant vegetation of the side of the estuary. There were some people there, probably they lived in the Lami Village. Nobody inside of water, although the strong sun the water was frozen.
- Let´s go to take a juice in the “juice”!
mr Peter continued cycling strong until the “juice”. Called me attention the fact that he cycle even in the light descendings, even thought without wind against or stopped wheels. I followed behind him expecting not to force too much the pedal, always keeping that strategical percentage of effort limit.
At last we arrived in the “juice”, that celebrity bar in the side of the road that binds Restinga quarter to the Lami and that all integrant of the yahoo groups “bike-rs” and “poabikers” know. Mr Peter, always very talking, after recouping the breath started to say for a curious auditorium when seeing that gentleman of white hair with clothes of cycler, all sweated come from unknowed place.
- I cycled for Uruguay, Argentina and Brazilian northeast yet. Everything is in the site of the Inema… We are going to go up the mountain range of the white crow and this my partner are going together!
- Really??!!
This expression of astonishment must have been because of my fatty reserve in the umbilical region. A reserve like this is very useful in the cases of pedals of long distance through the wasteland where there are water and lacks feeding.
We left the “juice” at high speed, Mr Peter always in the front.
- Let´s for the “Gasometro”!
- Good idea. Let’s go for Ipanema!
- Not, let’s go for the Teresópolis!
In the Eduardo Prado Avenue I heard one “plac plac plac” noise that came from one of the wheels of the Volare.
- I go to stop! For the racket it must be some imprisoned rock in the cramps of the tire.
For the jealousy of Mr Peter a small rock, round and smooth really imprisioned in the tire. He feels attraction for rocks of this type, and the rocks were being attracted to me.
We entered in in the Cavalhada Avenue cycling at more than 30 km/h, I was in the vacuum of Mr Peter. In this point there were no more reason to save effort. I gave freedon to the 40% remains of the potential and Mr Peter disappeared backwards in few minutes. I cycled stronglly and fast until the Teresópolis quarter where I stopped to wait its Peter. I bought a cooling bottle one and I seated in a step of the sidewalk under the shade of a light pole.
I waited its Peter so so 15 min and decided to follow until the “Gasometro”. Probably he had entered in the Dr Barcelos Avenue until the Icaraí Avenue.

I met him in the neighborhoods of the “Gasometro” with a group of bicyclers. I found an old partner of pedal Rodrigo Santos who was disappeared.
- I was in Criciúma city since a long time!
We took off photographs for the posterity and we make right future pedals.
Mr Peter wanted to be with the photos of the stroll.
- Let´s go until the downtown to buy a virgin compact disc.
We passed for the “Show of the Book”, pressed together people and books.
In the neighborhoods of the public market we acquired a compact disc with the peddlers. We crossed the park of the redemption and cycled slowly until the sofa of my house where we took a serramalte frozen beer and combined a lunch for the weekend: fish fried in the shed/museum of Mr Peter.


Total cycled: 113 km
Av to go: 15 km/h
Av to come back: 25 km/h
Total Av: 20 km/h


quarta-feira, outubro 25, 2006

Jaguarão e Arredores - Terceira Parte

(in english after the portuguese)

Jaguarão e Arredores – Terceira Parte

Cheguei de volta em Jaguarão às dezoito horas. Parei num posto de gasolina e calibrei os pneus borrachudos. Entrei numa padaria e me abasteci de pilhas palito para o farolete e de carbohidratos para o corpo. Sabia de antemão que seria preciso pedalar um bom tempo na escuridão da noite para alcançar Arroio Grande.

A bicicleta estava bem equipada com sinaleira traseira e farolete cateye, alforges com faixas reflexivas laterais e traseira; eu levava água e alimentação suficientes para uma noite de pedal.
Como o vento da região normalmente é sudoeste, eu estava contando com um empurrão até Arroio Grande. Haviam falado que o acostamento era razoável numa boa parte do trecho. Portanto a previsão era de que aquele pedal noturno fosse relativamente tranqüilo e seguro.

Telefonei para o Poti mas o telefone celular estava fora de área. Parti com otimismo, pensando que ele teria ficado um certo tempo em Jaguarão tirando fotos artísticas antes de rumar para Arroio Grande, provavelmente não deveria estar muito longe.

Sempre é bom viajar de dia. É mais agradável e seguro, especialmente quando se viaja de bicicleta. Na elaboração dos roteiros evito a inclusão de viagens noturnas. Quando um pedal à noite for inevitável, o ideal é atravessar a escuridão o mais rápido possível.

Pedalar no limite do potencial individual e acima do ritmo cardíaco ideal normalmente se manifesta no dia seguinte como dores musculares e queda no rendimento.
Quase sempre pedalo com a metade da minha capacidade aeróbica e muscular.
Naquele caso eu estava ciente de que deveria aumentar a potência e atingir mais de dois terços da capacidade, primeiro por ser um pedal noturno, segundo porque eu esperava alcançar o Poti.

Era quase seis e meia da tarde, o sol estava ficando fraco, saí de Jaguarão pedalando num acostamento novo quase cru a ponto de causar receio do piche grudar nos pneus e vice versa. Logo senti no pescoço um vento frio e contra, que me incomodava os ouvidos. O otimismo e a velocidade foram diminuindo quando percebi que eu pedalava até nas descidas para não parar.



Depois de pedalar cerca de quinze quilômetros contra o vento e sem encontrar nenhuma moradia ou posto de gasolina na estrada, acabou o acostamento e logo escureceu.

Analisei a situação: faltavam trinta e cinco quilômetros de pedal noturno e solitário contra o vento através daquele caminho desconhecido, provavelmente despovoado e sem acostamento.
Pensei em retornar a Jaguarão. Mas ao mesmo tempo também pensei numa cama com lençóis limpos me esperando no Hotel Colinas Altas em Arroio Grande.
Enrolei uma camiseta na cabeça, tapei os ouvidos para me proteger do vento frio e segui adiante pedalando na beirada da faixa branca.

O trânsito de automóveis era moderado, cerca de um veículo a cada dois minutos. Passavam vários carros e poucos caminhões, inúmeras motocicletas. Alguns buzinavam. A maioria, tanto os que iam como os que vinham, baixava a luz alta ao notar minha presença.
Senti falta de um espelho retrovisor na bicicleta para ver os faróis dos veículos que vinham se aproximando. Ela se desestabilizava quando eu tentava olhar para trás devido ao peso do alforge.

Pedalei o mais rápido possível. Na escuridão e contra o vento eu não percebia se estava subindo ou descendo, simplesmente pedalava forte e incessantemente para não parar. Com a escuridão completa na parte posterior do farolete eu não tinha noção de distância e velocidade, não sabia com qual relação pedalava e tinha dificuldade até para achar a caramanhola.

Num determinado ponto o deserto e as trevas levaram-me a pensar que seria melhor eu esconder-me nas gramas altas e dormir à beira da estrada, ensacado na espécie de mala-bike improvisada que vinha dentro do alforge.
Mas também pensei nas luzes, nas pessoas, e na cama com lençóis limpos me esperando no Hotel Colinas Altas em Arroio Grande. Pensei nas cobras e lagartos me esperando nas gramas altas.
Havia enfim chegado ao ápice da viagem. Talvez naquele ponto equidistante entre Jaguarão e Arroio Grande eu tivesse encontrado uma oportunidade rara de não poder desistir. Momento alquímico onde se esmaga a covardia e se fabrica a coragem. A ponte na retaguarda fora destruída e não restava outro caminho a seguir senão seguir adiante.

Enfim avistei as primeiras luzes da cidade. Um carro que vinha no sentido contrário parou no acostamento e alguém gritou.
- Sai da faixa!
Continuei.
- Anda no acostamento!

Era uma viatura da polícia rodoviária.
Entrei no que se podia chamar de acostamento: um gramado. A viatura fez meia volta, parei e os policiais desceram. Solicitaram documentação, perguntaram de onde eu vinha e para onde eu ia.
- Está bem que tu pratiques teu esporte, mas vá pelo acostamento pois podes ser atropelado. Não queremos juntar teus pedaços.

Segui lentamente pelo acostamento. Era perigoso de se pedalar ali também devido aos buracos e pedras ocultos pela grama alta. Mas em alguns trechos dava para se pedalar numa faixa estreita de um resquício de acostamento. Assim fui até a entrada da cidade onde ficava o hotel Colina Altas.

Chegando no hotel o recepcionista eufórico me deu a chave do quarto.
-Que aventura!!! Como foi?
-Foi uma viagem! Onde estão meus companheiros?
-Estão nos seus quartos!
-Vocês me conseguem água quente e um punhado de erva-mate? Quero preparar um amargo.
-É claro que conseguimos!

Era nove e trinta da noite. Entrei no quarto, larguei a bicicleta e fui procurar os parceiros. Bati na porta dos dois quarto.
-Tem alguém aí?
Nenhuma resposta, tudo escuro – concluí que ou eles eram indivíduos com grande facilidade para dormir ou que cairam no sono devido à exaustão.
Tomei banho, saboreei um bom chimarrão, comi uns pães cacetinhos que havia trazido de Jaguarão, e dormi.
Tinha pedalado 130 km naquele dia.


Acordei na manhã seguinte com batidas na porta. O Poti me chamava.
-Vamos pedalar!
Levantei meio confuso.
-Pedalar? Onde? Para que?
-A Márcia vai ser nossa guia pela zona rural de Arroio Grande. Vai nos acompanhar de carro. Sairemos em quarenta minutos.

Era cerca de oito horas. Tirei o alforge da bike e tomei café proseando com o Gava.
-Vocês dormiram cedo heim?
-Que nada! A gente foi numa festa. Quem dormiu cedo foi você. Cheguei às oito de Jaguarão. A Márcia um pouco antes. Um carro de apoio a recolheu na metade do caminho.
-E o Poti?
-Ele veio comigo.

Em pouco tempo eu já estava pedalando com o Poti em direção ao centro de Arroio Grande onde nos encontraríamos com a Márcia.
- E o Gava?
- O Gava vai ficar.
Encontramos a Márcia na casa dela.
-Sigam pela RS 602. A gente se encontra a uns 15 km daqui, na localidade de Peleia.
A localidade era uma granja meio abandonada. Durante todo o percurso não vi nenhuma habitação. Fiquei preocupado com a água.
-Trouxeste água Márcia?
Ela me mostrou um "litrão".

Entramos numa estrada vicinal que se tornou cada vez mais estreita e esburacada; por fim se transfigurou em trilha e a Márcia teve de descer do carro e ir caminhando.





Chegamos numa grande laje convexa semelhante à calota de um asteróide.
-Como se chama esse lugar?
-Todos chamam de "Laje".





Dali voltamos à RS 602, pedalamos de volta uns 5 km e entramos noutra estrada vicinal para conhecer a ponte ferroviária Mauá.
Atualmente não é mais ponte ferroviária, retiraram os trilhos e dormentes e a trasformaram em ponte rodoviária.





Voltei para o hotel com 50 km rodados , tomei banho e me preparei para o retorno.
Antes da partida fomos ao centro de Arroio Grande para almoçar. Havia uma exposição de motocicletas no centro. Tinha uma grande motocicleta preta, com reboque em forma de caixão de defunto, repleta de imagens que faziam apologia contra o uso de drogas. Amarrado no banco com uma coleira havia um gato preto.



Depois do almoço pegamos carona para Pelotas com uma combi.

Em Pelotas fizemos um translado para o jipe "poçante"(onde pára faz poça). Tomanos café numa das mais tradicionais cafeterias da cidade e rumamos para Porto Alegre.


Jaguarão city and surroundings - Third Part

I arrived in Jaguarão city at the 6 PM. I stopped in a gas station to calibrate the tires, and in a bakery to supply me with stacks for the lamp of the bicycle and carbohidrates for the body. I knowed that i would have to cycle for hours in the darkness to reach Arroio Grande city.

The bicycle was well equipped with back flaglight and lamp cateye, bags with lateral and back reflexive bands; i carried enough water and feeding for a night of pedal. As the wind of the region normally it is southwestern, I was expecting a good push until Arroio grande. To cycle against the wind is owfull. They had said me that the side of the asphalt was reasonable in a good part of the stretch therefore the forecast was of that the pedal although nocturnal would be calm and safe.

I telephoned for the Poti but his cellular was out area. I left Jaguarão city with optimism, thinking that he would have stayed a good time in Jaguarão taking off artistic photos before heading for Arroio grande and therefore he would not have to be too much far from me.


It is always good travelling during the day. It is more pleasant and safer, especially when it we travell by bicycle. In the elaboration of the scripts I prevent the inclusion of nocturnal trips. When cycling at night will be inevitable, the ideal is to cross as fast as the possible the blackout.

Cycling in the limit of the individual and above of the ideal cardiac rhythm normally manifest in the following day as muscular pains and fall of income. Almost always I cycle with the half of my aerobic and muscular capacity. But in that stretch I decided that I would have to increase the power and to reach two third of the potential, first because it was a nocturnal pedal, second because I waited to reach the Poti.

It was almost 6:30 PM of the afternoon, the sun was being weakened, I left Jaguarão cycling in an almost raw new sideroad to the point to cause distrust of the tar to fix in the tires. Soon I felt in the neck a cold wind against and it bothered my ears. The optimism had a brusque fall when I perceived that I had to cycle even in the descendings to not stop. As the sideroad was good, I followed ahead.

After cycling about fifteen kilometers against the wind and without finding no housing or gas station in the way, it finished the sideroad and soon became gloomy. I would have to cycle 35 km in that conditions. About this point I thought about returning to Jaguarão city. But at the same time also it thought about a bed with clean sheets waiting for me in the Hotel High Hills in Arroio Grande. I rolled a t-shirt in the head, covered the ears to protect me of the cold wind and followed ahead cycling in the side of the white band in asphalt.


The transit of automobiles was moderate, passed many cars and few trucks, innumerable motorcycles. Some buzzed. The majority lowered the high light when noticing my presence - the ones that went as the ones that came. I cycled as fast i could do. I felt lack of a mirror in the bicycle. It was not stable itself when I tried to look backwards due to the weight that I loaded in bags.

In the darkness and against the wind I did not perceive if I was in an ascent or in a descending, simply i cycled incessantly to not stop; at principle everything was ascent. With thar darkness in the backward of the lamp of bicycle, I had difficulty even to find the bottle of water.


In a determined point, the desert and the darknesses had taken me to think that would be better I hide myself in the high grasses and sleep in the side of the road, bagged into a species of improvised luggage-bike that i carried inside of bicycle luggages. But also I thought about the lights, the people, and the bed with clean sheets waiting for me in the High Hills hotel in Arroio Grande city. I thought about the snakes and lizards waiting for me in the high grasses.
I concluded i was in the apex of the trip. Perhaps in that equidistant point between Jaguarão and Arroio Grande cities I had found a rare chance of not being able to give up. Alchemical moment where we jams the cowardice and manufactures the courage. The bridge in the rear was destroyed and there were no other way to follow if not follow ahead.

Finally I saw the first lights of the city. A car that came in the contrary direction stopped in the sideroad.
- Go out from the asphalt!
I continued.
- Enter in the sideroad!
It was the car of the road policy.I entered in what something like sideroad. It had hight grass. The car made stocking comes back, stopped and the policemenwas comming from and were i was going to.
- You can practise your sport, but go for the sideroad, not for the road. The cars can catch you. We do not want to join your pieces.

I followed slowly for the sideroad. It was also dangerous to cycle there due to the holes and occult rocks in the hight grass. But in some stretches it was possible to cycle in anarrow band of a the damaged sideroad. Thus I cycled until the entrance of the city where there were the hotel.
Arriving in the hotel the euphoric manager gave me the key of my room
- What an adventure! How it was?
- It was a trip! Where they are my friends?
- They are in its rooms!
- Could you give me a bottle of hot water and a handful of grass tea maté? I want to prepare a good chimarrão.
- It is clearly that we can get it to you!
It was 9:30 PM. I entered in the room, I released the bicycle and I went look for my partners. I beat in the door of the two room.
-There is somebody there?
No reply, all dark inside.
I concluded that or they were individuals with great easiness to sleep or that they fell in sleep due to exhaustion.
I took a bath, drunk the good chimarrão, I ate bread brought from Jaguarão city, and slept.
I had cycled 130 km in that day.

I woke up in the following morning with strokes in the door. The Poti was calling me:
- Let´s go bicycle!
I raised half confused.
- Bicycle? Where? For what?
- Márcia are going to guide us for the agricultural zone of Arroio Grande in her car. We will leave in forty minutes.
It was about eight hours. I took off the bags from my bike and took coffee talking with Gava.
- You slept early isn´t?
- No! We were in a party. Who slept early was you. I arrived at the eight of Jagurão. Marcia a little before. A support car collected her in the half of the way.
- And the Poti?
- He came with me.
In little time I was already cycling with Poti in direction to the center of Arroio grande city where we would meet Márcia.
- And the Gava?
- The Gava will is not going with us.
We found Marcia in her house.
- You follow for RS 602 road. We meet so so 15 km from here, in the locality of “Peleia”. The locality was an abandoning half farm. During all passage i didn´t see no habitation. I was worried about the water.
- Marcia, did you bring water?
She showed a big bottle with water to me.
We entered in a vicinal road that became each time narrower and with more holes; finally it turned in a track and Marcia had to go down of the car and to go walking.

We arrived in a great convex flagstone similar at one calote of an asteroid.
- How is called this place?
- Everyone call “Flagstone”.
From there we come back to RS 602 road, we cycled in return 5 km and we entered in another vicinal road to know the bridge railroad called Mauá. Currently it is not more a railroad bridge, it had its tracks removed and the made changed it in a road bridge.
I came back toward the hotel with 50 km twirled, took bath and I prepared myself for the return.
Before the departure we went in the center of Arroio Grande to lunch. There was an exposition of motorcycles. There were a big black motorcycle, with tow in form of deceased coffin, full of images that made vindication against the use of drugs. Moored in the bank with a coleira it had a black cat.
After the lunch we catch hitchhiking for Pelotas city in a van.
In Pelotas we made a transfer for “the poçante” jeep (poçante = where it stops it makes puddle). We drunk coffee in one of the most traditional coffe-house of the city and we wente to Porto Alegre city.









terça-feira, outubro 24, 2006

Jaguarão e Arredores - Segunda Parte

(in english after the portuguese)



Jaguarão e Arredores - Segunda Parte

Som e imagem de fundo: Los Olimareños

Cheguei na cidade de Jaguarão as 4:30 hs da manhã.
O ônibus parou na estação rodoviária bem em frente à praça central, na face oposta a da Igreja Matriz. Não havia box apropriado, o estacionamento era feito no sentido longitudinal.
Montei a bicicleta e parti para o Uruguai. A temperatura ambiente era de oito graus centígrados conforme meu termômetro de bolso.

Cruzei o rio Jaguarão pelos trezentos e quarenta metros da ponte internacional Barão de Mauá e entrei no centro antigo da cidade de Rio Branco. Pedalei numa estrada que segue pela periferia do centro novo e vai até a aduana. Fui além, passei por um regimento de cavalaria, até um posto de gasolina a uns 8 km da ponte. Para adiante do posto de gasolina aparentemente acabava a zona urbana - que os uruguaios chamam de "planta" urbana.



Voltei pelo mesmo caminho e entrei no centro novo de Rio Branco - que alguns chamam de “Coxilha”.
Nas estradas vi caminhonetas antigas ciculando. Eram da década de cinqüenta e sessenta e me fizeram relembrar minha infância.

Seis horas da manhã, ruas quase desertas, comércio fechado. Encontrei uma padaria aberta em frente à qual havia um estacionamento para bicicletas com três bicicletas bastante antigas encaixadas na estrutura metálica. Estacionei a minha entre as outras e entrei.



A padaria tinha um grande sortimento de pães, bolos e doces. Tomei café com leite e sanduiche, peguei a bicicleta e dei uma perambulada pelas ruas de Rio Branco até a ponte sobre o rio Jaguarão.



Voltei a Jaguarão pelas oito horas da manhã com quase trinta quilômetros rodados em território uruguaio. Procurei um local adequado para dar uma cochilada enquanto esperava o grupo chegar de Arroio Grande.
Encontrei uma praça deserta onde preparei um bivaque sob um pinheiro. Abrigado do vento e sob uma temperatura de doze graus fiquei por ali até as dez horas.



Levantei do catre improvisado, coloquei os apetrechos no alforge e fui fazer compras magras nos free-shoppings do centro histórico de Rio Branco.



Logo depois o Renato Gava telefonou para meu celular avisando que eles estavam chegando.

-Estamos a três quilômetros do centro!

Acertamos um ponto de encontro na praça, fiquei esperando sentado num banco de concreto.
Surgiu um casal de ciclistas de capacete, luvas e bermudas apropriadas numa das ruas que contornam a praça. Eu não conhecia o Renato Gava nem a Márcia, mas certamente eram eles que vinha chegando visto que aparentemente eram raros os ciclistas paramentados circulando por Jaguarão.
Depois de nos cumprimentarmos perguntei pelo Poti.
-Ele está tirando fotografias pelo caminho, logo vai chegar.

O Poti chegou logo depois e fomos para a ponte Mauá, passando antes por uma espécie de forte onde havia um cidadão cheio de energia. Ele nos tentou passar todas as informações turísticas da cidade de forma espraiada e surreal como a copa das figueiras que circundavam o local.



No lado Uruguaio procuramos por um restaurante para comer parrijada. Carne, tripa grossa, glândulas e rins de gado acompanhados de cocha e sobre-coxa de frango assados eram servidos numa travessa térmica de metal.
Comemos aquilo tudo com cerveja pilsen. Os garçons hilários faziam palhaçadas em língua espanhola para agradar os turistas.





Nos alongamos numa conversa sobre gauchadas e aventuras ciclísticas entre outros assuntos satélites. Saímos dali carregados de colesterol. A Márcia estava cansada de pedalar e decidiu voltar logo para Arroio Grande, o Gava quis acompanhá-la. Eu e o Poti resolvemos seguir a programação e conhecer a localidade de Lago Merin, às margens da Lagoa Mirim, a vinte quilômetros de Rio Branco.

Antes do grupo se separar fomos até o centro de Rio Branco. Pelo caminho encontramos um brique no acostamento da UR e uma loja de ciclo-motores usados, muito comuns em Rio Branco.





Pegamos uma longa estrada asfaltada retilínea e plana. Pedalar ali era maçante, nada de atrativo ao derredor. Pouquíssimas habitações, as que haviam pareciam abandonadas. Divagando, distanciei-me do Poti sem perceber. Meu telefone celular tocou.
-Acabou a água, acho que devemos voltar.
-Eu tenho duas garrafas cheias. Estou no Km 10.



Esperei por ele, repartimos a água e seguimos o pedal.
Pedalamos mais um trecho.
- Meu monitor cardíaco está apitando. Acho que devo voltar. Não posso forçar muito. Quero pedalar amanhã.

-Mas só faltam seis km! Não vamos pensar muito no pedal de amanhã. Já está tudo planejado.

Seguimos adiante. Encontramos no caminho um senhor de idade avançada empurrando um pequeno ciclo-motor enferrujado. Vestia uma camisa branca com divisas azuis nos ombros, calça e quepe azuis. Trazia uma faca na cintura.
Achei que ele trabalhasse em algum hotel ou empresa de vigilância.

-Tudo bem com o senhor?
-Tudo bien.
-O senhor tem água? Se precisares temos um pouco.
-Si, tengo água, mejor que a dos senhores.

Mostrou-nos uma garrafa de cachaça com pedaços de bergamota.

-Quieres um poquito?
-Não obrigado, temos de pedalar muito ainda hoje. Porque o senhor usa farda?
-Jo so de la policia!

O Poti definitivamente resolveu voltar.
-Acho que está ficando tarde e não quero chegar de noite em Arroio Grande.
-Mas Poti, falta uns quatro km! Já pedalamos mais de 15!
-Meu monitor está apitando, quero pedalar amanhã, não quero chegar tarde. Fui!

Segui solito. Logo cheguei em Lago Merin. É uma cidadela com infra-estrutura de balneário. Aparenta ser movimentada no verão e quase deserta no inverno.
Fiquei um tempo perto da margem da lagoa onde tirei umas fotos na areia grossa.





Entrei num boteco onde vendiam de tudo um pouco, e que pertencia a um senhor simpático chamado Vasquito.



Falamos sobre as características daquela localidade, ele me deu um adesivo do Clube de Bochas de Lago Merin para colar na bicicleta.
-Preciso ir seu Vasquito, ainda pretendo pernoitar em Arroio Grande, são setenta quilômetros daqui até lá, e já são mais de quatro horas da tarde.

(continua)

Jaguarão and Surroundings - Second Part

I arrived in Jaguarão city at 4:30 AM. The bus stopped in the road station in front of the central square, in the opposing face of the church. It did not have box appropriate for bus, the parking was done in the longitudinal direction. I mounted the bicycle and I left to Uruguay. The ambient temperature was of eight centigrade degrees as my thermometer of pocket. I crossed the Mauá bridge and the old center of the Rio Branco city in Uruguay. I cycled in a road that follows for the periphery of the new center and goes until customs. I went beyond, I passed for a cavalry regiment, until a gas station to ones 8 km from the bridge. For ahead of the gas station aparently finished the urban zone.
I came back for the same way and I entered in the new center of Rio Branco city - that is called also as “Coxilha”. In old roads i saw old trucks. They were of the decade of fifty and sixty and made me to remember my infancy. Six hours of the morning, streets almost desert, closed commerce. I found a bakery opened in front of which it had a parking for bicycles with three very old bicycles incased in the metallic structure. I parked mine between the others and entered.
The bakery had a great assortment of breads, cakes and candies. I took a cup of coffee and ate a sandwich, I caught the bicycle and I gave one rambled for the streets of Rio Branco until the bridge on the Jaguarão River.
I came back to Jaguarão for the eight hours of the morning with almost thirty kilometers twirled in Uruguayan territory. I looked an adjusted place to sleep a little while I waited the group to arrive from Arroio grande city. I found a square desert where I prepared a bivouac under a pine. Sheltered of the wind and under a temperature of twelve degrees I stayed there until the 10 AM.
I raised from the improvised bed, I placed equipment in bags and went to make lean purchases in free-shoppings of the historical center of Rio Branco city in Uruguay.
Soon the Renato Gava telephoned to my cellular phone informing that they were arriving.
- We are the three kilometers of the center!
We make right a point of meeting in the square, I was waiting seated in a concrete bank. Appeared a couple of ciclistas of helmet, appropriate gloves and shorts in one of the streets that skirt the square. I did not know neither Renato Gava nor Márcia, but certainly they were they who were arriving since that aparently the apropriated weared bicycler are rare circulating for Jaguarão city. After complimenting them I asked for Poti.
- It is taking off photographs for the way, then he goes to arrive.
Poti arrived soon and we went for the Mauá bridge, passing before for a species of fort where there was a citizen full of energy. He tried topass us all the tourist information of the city in a large and surreal form as the pantry of the figueiras trees that surrounded the place.
In the uruguayan side we look for for a restaurant to eat parrijada food. Meat, thick gut, glands and kidneys of cattle folloied of leg and baked on-thigh of chicken were served in a thermal metal crosspiece. We eat that everything with beer pilsen. The funny waiters said jokes in portunhol language to please the tourists.
In the restaurant we talked too much a prolongated colloquy about braveries and cycling adventures and satellites subjects . We leave the restaurant loaded of cholesterol. Márcia was tired of cyclingr and decided to come back soon toward Arroio Grande city, and Gava wanted to follow her. Poti and I decided to follow the programming and to know the locality of Lago Merin, in the edges of the Lagoon Mirim, twenty kilometers from Rio Branco. Before the group separating we went until the center of Rio Branco. For the way we find one seller in the UR road and a store of used mopeds, very common in Rio Branco.
We catch a long rectilinear and plain tarred road. To Cycle there was dulling, nothing attractive around. Very little habitations, the ones that existed seemed abandoned. Thinking in life, I got some distance from Poti without perceiving. My cellular telephone touched.
- Finished the water, I think that we must come back.
- I have two full bottles. I am in km 10.
I waited for him, we shared the water and we followed the pedal.
We cycled more a stretch.
- My cardiac monitoring is whistling. I find that I must come back. I cannot force very much. I want to cycle tomorrow.
- But only lack six km! We don't must to think very much about the pedal of tomorrow. It is already planned.
We followed ahead.
We found in the way a gentleman of advanced age pushing a small rusted moped. he dressed a white shirt with verge blue in the blue shoulders, pants and hat. He had a knife in the waist. I found that he worked in some hotel or company of insurance.
- All good with Mr.?
- Everything good!
- The gentleman has water? If you need we have a little.
- I have water, bethen than yours
He showed us a bottle od fire water mixed with pieces of tangerine.
- Do you want a little?
- Not, thank you. We have of cycle a lot today. Why do you wear this uniform?
- I am a policeman!
Poti definitively decided to come back.
- I think that it is being late and I do not want to arrive at night in Arroio Grande.
- But Poti, lacks only four km! We cycled more than 15 yet!
- My monitor is whistling, I wanna to cycle tomorrow, And i don´t want to arrive late. So I am returning.
So I followed alone. Soon I arrived in Lago Merin, a small city with health-resort infrastructure. It makes look like to be crowed in summer and empty in winter. I stopped a time close to the edge of the lagoon where I took off photos in the thick sand.
I entered in one bar where they sell little of everything, and a man called Vasquito, a likeable gentleman, was the owner. We spoke about on the characteristics of that locality, he gave me an adhesive to me of the Club of Bochas of the Merin lacoon to glue in the bicycle.
- I need go Mr Vasquito. I intend to spend the night in Arroio grande today. there are seventy kilometers to cycle from here until there, and it is more than 4 PM yet.

(it continues)




segunda-feira, outubro 23, 2006

Jaguarão e Arredores - Primeira Parte

(in english after the portuguese)

Jaguarão e Arredores - Primeira Parte



Antes do relato vamos falar um pouco sobre o título e a descrição do blog.

O título “perpedalando” foi criado a revelia da língua portuguesa para expressar a filosofia desse blog.

Perpedalando significa “percorrer pedalando” ou melhor, "percorrer andando de bicicleta"

É a mescla de "percorrer" com "pedalar"

Percorrer significa "correr ou andar por; visitar em grande extensão ou em vários sentidos"(Dicionário Aurélio)

Pedalar significa "andar de bicicleta" (Dicionário Aurélio)
Apesar do dicionário Aurélio também fazer essa definição, é sabido que nem todo aquele que pedala anda de bicicleta e nem todo aquele que anda de bicicleta pedala (ver afiadores e caroneiros)

Pago significa "o lugar natal; o rincão, a querência, o povoado, o município onde alguém nasceu e/ou onde reside" (Dicionário Aurélio)

O "pago" na descrição "percorrendo os pagos de bicicleta" está no plural.
Pago no plural - pagos - tem conotação universal.

Se estivesse no singular - pago - os pedais de que trata esse blog ficariam restritos a um determinado lugar.

Para concluir:

Se os pagos fossem percorridos de carro ou de a pé os termos mais corretos seriam “perdirigindo” ou “percaminhando” respectivamente.

Se os pedais fossem feitos ao acaso, sem estratégia e preparo, o termo mais correto seria "perambulando"


Depois da última viagem a Ernesto Alves eu adquiri um alforge e uma modesta máquina fotográfica com tripé. Estava aguardando o momento para experimentar esses novos equipamentos e percorrer os pagos novamente quando o Poti, proprietário do blog pedivela sugeriu uma viagem para Jaguarão-RS:

- Vamos eu e o Gava, colega de profissão. Partiremos de Porto Alegre no dia 19, quinta-feira, no “poçante”, até Pelotas. Ali deixaremos o jipe (o "poçante") numa garagem e rumaremos para Arroio Grande na sexta-feira de manhã. Em Arroio Grande a amiga Márcia se incorporará ao grupo, e no sábado pela manhã pedalaremos até Jaguarão. Visitaremos a lagoa mirim e retornaremos a Arroio Grande no mesmo dia. Domingo teremos duas alternativas: ou pedalamos de volta para Pelotas ou vamos conhecer a zona rural de Arroio Grande para depois pegarmos carona até Pelotas numa van.

- Tudo bem, só que não poderei sair na quinta-feira, encontro vocês em Jaguarão no sábado pela manhã.

- Legal! Vou reservar hotel para nós três em Arroio Grande!

Sexta-feira, onze horas da noite saí pedalando pelas ruas de Porto Alegre. Chegando na estação rodoviária retirei a roda dianteira e ensaquei a bicicleta com alforge e bolsa de guidom acoplados. Coloquei a bicicleta embalada sem problemas no bagageiro do ônibus da empresa Frederes e parti à meia-noite rumo a Jaguarão.

Num pedal existem itens básicos que não podem ser esquecidos, como é o caso de certas ferramentas. Em se tratando de outros itens, como vestuário, cada ciclista tem sua peculiaridade e leva consigo o que for mais apropriado.
Eu levava material suficiente para dois dias de pedal, conforme tabela abaixo.
A tabela é pessoal e baseada na experiência própria, facilita os preparativos para passeios e viagens.

BAGAGEM PARA CICLOTURISMO

VESTUÁRIO PARA VIAGENS 1 dia /2 dias /3 ou + dias
Bermuda comum 0/ 2/ 3
Bermuda de ciclista 1/ 2/ 2
Boné 0/ 0/ 1
Calça de abrigo 0/ 1/ 1
Camisa branca de manga 0/ 1/ 2
Camiseta comum 0/ 2/ 3
Camiseta de ciclista 1/ 1/ 1
Capacete 1/ 1/ 1
Chinelo de dedos (par) 0/ 1/ 1
Cuecas 1/ 3/ 4
Jaqueta impermeável 1/ 1/ 1
Lenço de cabeça 1/ 1/ 1
Luva de ciclista 1/ 1/ 1
Moletom 0/ 1/ 1
Óculos de proteção UV 1/ 1/ 1
Par de meias 1/ 3/ 4
Tênis 1/ 1/ 1
Toalha média 0/ 1/ 1

FERRAMENTAS Cidade/ Viagens/Agreste(1 dia)
Câmara 1/ 2/ 2
Bomba de ar 1/ 1/ 1
Canivete 1/ 1/ 1
Chave allen completa 1/ 1/ 1
Chave de raio 0/ 1/ 1
Fita isolante 0/ 1/ 1
Kit para remendos 0/ 1/ 1
Óleo para corrente 0/ 1/ 1
Par de espátulas 1/ 1/ 1
Pneu reserva sem arame 0/ 1/ 1
Pedaço de pano para limpeza de corrente 0/ 4/ 1

FARMÁCIA Cidade/ Viagens/ Agreste (1 dia)
Band-aid 0/ 5/ 5
Barra de cerais 0/ 2/ 2
Purificador de água(un) 0/ 1/ 1
Mariola 0/ 5/ 5
Metoclopramida (fr) 0/ 1/ 1
Paracetamol (bl) 0/ 1/ 1
Pomada calminex 0/ 1/ 1
Protetor solar 0/ 1/ 0
Reidratante oral 0/ 1/ 0
Tala elástica 0/ 1/ 1
Termômetro 0/ 1/ 0

OUTROS Cidade/ Viagens/ Agreste (1 dia)
Alforge 0/ 1/ 0
Aparelho de barbear 0/ 1/ 0
Apito 0/ 1/ 1
Bolsa de bagageiro 1/ 0/ 1
Bolsa de guidom 0/ 1/ 0
Bússola 0/ 1/ 1
Caneta 1/ 1/ 1
Ciclocomputador 1/ 1/ 1
Corda extensoras 1/ 3/ 1
Corrente de segurança 1/ 1/ 1
Cuia e bomba de chimarrão 0/ 1/ 0
Desodorante 0/ 1/ 0
Diário 0/ 1/ 0
Escova de dentes e pasta 0/ 1/ 1
Farolete 1/ 1/ 1
Mala-bike (saco grande) 0/ 1/ 0
Mapa 0/ 1/ 1
Máquina Fotográfica com tripé 0/ 1/ 1
Papel higiênico 1/2 rolo 0/ 1/ 1
Pente 0/ 1/ 0
Pochete 0/ 1/ 1
Sabão de coco (barra pequena) 0/ 1/ 1
Saco plástico pequeno 1/ 2/ 1
Telefone Celular 0/ 1/ 1

OBS:
1) Planilha pessoal
2) Vestuário para viagens de verão
3) Vestuário inclui todas as vestes, inclusive a do momento da partida
4) Agreste (1 dia) : campo, serra, mato, locais ermos

(continua)


JAGUARÃO AND SURROUNDINGS

Before begin the story let´s go to say a little about the name of my blog.
The term “perpedalando” was created by the default of the portuguese language to express the philosophy of this blog. "Perpedalando" means “to cover a distance cycling”. If the the distance was covered by car or of by the foot, the term most correct would be “perdirigindo” or “percaminhando” respectively.

After the trip to Ernesto Alves I acquired a bag to bicycles and a modest photographic machine with tripod. I was waiting for the moment to test these new equipment and to cover the land ones again when the Poti, proprietor of blog www.pedivela.blogspot.com suggested a trip for Jaguarão-RS:

- I and the Gava, a workmate, let´s go there. We will leave of Porto Alegre city in the day 19, thursday in the “poçante” until Pelotas city. There we will leave the jeep (the "poçante") in a garage and will follow to Arroio Grande city in the friday morning. In Arroio Grande the Márcia friend will become incorporated itself in the group, and in saturday morning we will cycle until Jaguarão city. We will visit the lagoon mirim and we will return to Arroio grande in the same day. Sunday we will have two alternatives: or we are going to cycle to Pelotas city or we go biking to know the zone agricultural of Arroio Grande and later later catching hitchhiking until Pelotas city in a van.

- All right, but I will not be able to leave in the thursday, I can meet you in Jaguarão in saturday morning.

- Greatl! I will reserve the hotel for three in Arroio Grande!

Friday, 11 pm I was cycling in the streets of Porto Alegre city. Arriving in the road station I removed the front wheel and bagged the connected bicycle with bags and stock market of guidom. I placed the bicycle without problems in the baggage compartment of the bus of the Frederes company and followed to Jaguarão city at mid night.
I was carrying enough material for two days of in agreement with the tabel that is good to facilitate the preparatives. There exist basic materials that tools can not be relegated, especially some tools, but is clearly that for others itens, as clothes, each cycler have its peculiarity and carry what they want. The tabel that I elaborated is personal and is based on the proper experience.

(it continues)

quarta-feira, setembro 20, 2006

Ernesto Alves e Arredores - Última Parte

(in english after the portuguese)

Ernesto Alves e Arredores - Última Parte

Nem tudo anda sobre duas rodas. Nos dias seguintes fomos de caminhoneta até lugares onde poderíamos ter ido de bicicleta: percorremos estradas nos pampas, retornamos ao pilão d'água, visitamos o mirante dos Minuzzi nos altos do morro Chapadão.

Pedalamos relativamente pouco sim, mas não medimos a qualidade do pedal pela distância percorrida e sim pela satisfação psicofísica, que é fruto de muitas variáveis e ainda não há ciclocomputador que a compute. Estávamos satisfeitos com dois dias de pedal e pedalar mais seria um desprazer, quiçá um exagero.

Sou um observador que pedala, um aprendiz de cicloturismo; o ciclismo não é meu ofício. A bicicleta para mim é um instrumento de lazer e descontração, por isso normalmente não passeio por dever. Com suficientes encargos reais no cotidiano, não haveria lógica em se criar obrigações rígidas através do lazer.
Meus compromissos ciclísticos são poucos e maleáveis. São todos baseados em estratégias simples, suficientes para que eu possa chegar ao destino pelo caminho mais curto. Esse caminho mais curto não significa que seja o caminho de menor distância, e sim o de menor resistência. E o caminho de menor resistência não significa que seja o mais fácil, e sim o que mais se adapte à estratégia, e que proporcione maior segurança e satisfação psicofísica.
Há algum tempo eu acreditava que a sensação de bem estar e leveza durante e depois os passeios ciclísticos provinham unicamente de substâncias químicas endógenas liberadas no pedal. Assim, de forma simplificada, eu passei a acreditar que a endorfina liberada nas subidas e a adrenalina liberada nas descidas era o ópio dos ciclistas.
Mas a experiência me fez descobrir um outro fator envolvido no processo da geração do bem estar e leveza: o fator psíquico.
A bicicleta é um instrumento simples e versátil. Sendo um meio de transporte, não nos permite transportar muita coisa a não ser nós mesmos e no máximo tudo o que possa caber num alforge.
Como a bicicleta é veículo de propulsão humana o peso transportado por ela é inversamente proporcional à leveza do pedal.
Quando pedalamos incorporamos por identidade o espírito da bicicleta - simplicidade, versatilidade e leveza. Se por acaso existe alguma preocupação ou pesar corriqueiro, necessariamente os deixamos em algum outro lugar, não há espaço nem vantagem de se carregar peso excedente.

Por isso, apesar do cansaço, da fome, da chuva, da escuridão, das dúvidas, dos trabalhos, dos percalços, nosso passeio por Ernesto Alves e arredores foi gratificante. Não havia cargas, os caminhos eram bucólicos, fugimos de nossos hábitos mentais rotineiros e pedalamos leves.



Pilão d'água



Enchente no rio Rosário cobriu uma ponte



Mirante dos Minuzzi



Igreja nos altos do morro Chapadão



Casa em Ernesto Alves



Ruinas de uma das casas dos primeiros imigrantes italianos



Poço do oleiro no rio Rosário



Bar em forma de barco às margens do rio Jaguari



Jaguari - entrada da cidade

Ernesto Alves and Surroundings - Last Part

Not everything goes on two wheels. In the next day we went by a pick up truck until places where we could have gone by bicycle: we covered roads in Pampas, we returned to the water pylon, we visited the mirant of the Minuzzi in the high of the Chapadão mount.
We were satisfied with two days of pedal and to cycle more would be a displeasure, maybe cycle too much. We cycled relatively few yes, but we do not measure the quality of the pedal for in the distance covered and yes for the satisfaction physical and psychic.
The satisfaction is fruit of many variable and it does not have cyclocomputer that computes it.

I am an observer who cycles, an apprentice of cyclotourism; cycling is not my job. The bicycle for me is instrument of leisure and relax, so normally I do not stroll by obligation. With enough real incubencies in the day by day, it would not have logic in if creating rigid obligations through the cyclotourism. My cycling commitments are few. All are malleable and based in simple strategies, enough to me arrive at the destination for the shortest way. This shortest way does not mean that it is the way of lesser distance, and yes of lesser resistance. And the way of lesser resistance does not mean that it is the most easy, and yes that is more adapted to the strategy, and that provides greater security and satisfaction .

Some time ago i believed that the sensation of welfare and the slightness during and later the bicycle strolls came solely from set free endogenous chemical substances in cycling. Ina simplified way, I believed that the set free endorfina in the ascents and the set free adrenalin in the descendings was the opium of the mountain bikers. But the experience made me to discover that there is another involved factor in the process of the generation of the welfare and the slightness: the psychic factor.
The bicycle is a simple instrument. Being a way of transport, it does not allow us to carry much thing unless ourselves and in the maximum everything that can put inside a small bag. Also
the weight is inversely proportional to the slightness of the pedal .
When we cycle we incorporate the spirit of the bicycle, simplicity and the versatility.
Therefore if I have some concern, or sadness, necessarily I leave them in some place, because cycling there is nor space neither advantage in carrying much thing.

Thus, although the fatigue, of the hunger, rain, the darkness, the doubts, the works, the profits, our stroll was rewarding. We were without loads, we had not space for sadnesses and concerns, we ran away from our routine and mental habits and cycled light.