terça-feira, março 22, 2005

Audax 200 - Santa Cruz do Sul

Sábado, depois de assistir pela manhã o filme "As Bicicletas de Belleville", saí às 14 hs de Porto Alegre rumo a Santa Cruz do Sul. Ia comigo o Rodrigo.

Enquanto dirigia, escutava o cd "Tour de France" do grupo Kraftwerk. Logo o Rodrigo comentou que a trilha sonora daquele cd aparentemente não tinha nada a ver com ciclismo, dada à monotonia das melodias technopop. Comentei que aquilo realmente não tinha nada a ver com trilhas radicais, mas muito a ver com retões/longas distâncias em asfalto.
Nas proximidades de Eldorado encontramos um ciclista.
-Deve ser alguém indo para o Audax...
O Rodrigo gritou:
-É o Daniel!
Paramos.
O Daniel perguntou se tinha carona.
Colocamos a bike dele no transbike, trocamos o cd do Kraftwerk pelo do Peter Murphy e seguimos viagem.

Em Santa Cruz conseguimos vaga num hotel barato. Vaga para quatro, visto que o Anderson da Rodociclo estava para chegar mais tarde, e ficaria conosco. O único problema é que no quarto tinha duas camas de solteiro e uma de casal. Sorte que eu havia trazido um colchão...

Depois de reservarmos as acomodações, comprei uns bolos, mariolas, barras de cereais, água mineral no supermercado Nacional.
Por voltadas 17 hs chegamos à UNISC. Feita a entrega da documentação, vistoria das bikes, reunião do pessoal, fomos jantar no restaurante Centenário, em frente ao Hotel. Estava por ali o Cristiano, mais tarde apareceu o Marcelo e a Ester. Saí dali por volta das 22:30 hs pois esperava dormir cedo.

Domingo acordei às 4:15 horas da manhã com barulhos de vozes do lado de fora, e com muita sede: o churrasco estava um pouco salgado. Os outros três já estavam acordados: o Anderson havia chegado (coisa que nem vi), nem sei se ele chegou a usar o colchão que eu havia trazido...
Chegamos à UNISC onde comemos um dos bolos que eu havia comprado, as padarias estavam todas fechadas e não tinha como tomar café da manhã.
Preparei um chimarrão, tomei uns mates e fui no banheiro enquanto um senhor meio idoso que viera de São Leopoldo para participar do Audax ficou cuidando da cuia.
Quando saí do banheiro a cuia e a térmica estava no chão e eu já ouvia o Luiz Faccin fazendo a contagem regressiva para a largada:
-8, 7, 6, 5....!

Corri por um gramado uns 200 m até o carro para largar os apetrechos de chimarrão, na volta o pessoal já tinha largado ao som da buzina da bike do Daniel.
Peguei a bike e saí junto com os ultimos. Quando tinha pedalado mais ou menos 1 km o Anderson passou por mim:
-Vamos lá!
Respondi:
-Pode ir! Vou seguir a uns 22 por hora! Pretendo chegar do jeito quesaí.
E olhei para o ciclocomputador.
-Ué? Cadê o ciclocomputador?
Tinha esquecido no carro!Voltei, peguei o aparelho e larguei a uns 30 km por hora.

O Audax tinha começado.
Achei que andando a alta velocidade iria alcançar muita gente... que nada. O pessoal tinha desaparecido. No início do trecho da RS 287 só tinha eu e uns gatos pingados retardatários. Ali passei pelo Daniel e mais dois agachados que consertavam uma bike (depois descobri que erao Rodrigo e o Marcelo emendando uma correia).
Voltei ao ritmo da minha estratégia. Como não tenho oportunidade de treinar numa frequência ótima ou pelo menos boa (geralmente quem mora e trabalha 8 hs por dia em Poa tem essa dificuldade), a estratégia era a de fazer uma média de uns 22km/h na ida e uns 18 km/h na volta, parando uns 15/20 min em cada PC.
Um pouco antes do PC 1 o Daniel e o Rodrigo me alcançaram. Parei num posto de gasolina para calibrar os pneus e eles seguiram. Estava com 30 libras em cada pneu, usava uns semi-slick 1.95. Notei que a bike estava um pouco pesada...

Depois do PC 1 começei a sentir dor no joelho. Alcancei a Esther e fomos juntos por um bom tempo, pegando um vento contra, diagonal.
Quando faltava uns 25 km para o PC 2 passamos por um pelotão que já vinha voltando em ritmo de "raccing". Logo adiante vi o Udo também já voltando na barra circular (ele fez o Audax numa barra circular velha, carregando uma caixa com ferramentas).
Cheguei no PC 2 às 11 hs com uma média pedalada de 23 km/h. Meu joelho doia muito. Achei que não iria poder voltar pedalando. Mas o Rodrigo que estava por ali, tinha uma pomada para cavalo (Calminex) para me emprestar. Passei a pomada, a dor desapareceu.

No PC 2 também encontrei o pessoal que veio de Poa pedalando, O Vicente, a Alison, oValter, ... Quase todos os "Audaxiosos" já tinham passado peleo PC 2 naquele horário. Saí dali às 11:20 hs. Sempre com o sonoridade da música "Eletrocardiogram" do Kraftwerk retumbando na cabeça (aquela música se aderiu no meu cérebro), segui viagem.

Notei que o banco tinha baixado um pouco e que a cada pedalada para baixo eu levava uma pancada nos joelhos. Concluí que poderia ser essa a origem da dor no joelho: banco baixo. Levantei o banco, e fui pedalando até o PC 3 sem dor.

No PC 3 parei um bom tempo, encontrei o Rodrigo que propôs irmos juntos até o final. Eu considerava que já tinha parado bastante, ele queria ficar lá mais tempo, eu estava ansioso para continuar e já estava com o corpo prestes a esfriar.
Decidi ir logo:
-Vou a uns 15 km/h e tu me alcanças ali adiante...

Antes de Vale Verde ele tinha me alcançado. Seguimos juntos a uma média de uns 23/24 km/h até ele dizer que já estava meio cansado eque iria dar umas paradas esporádicas.
E parou num posto de gasolina antes do famoso Cerro da Boa Esperança.

Segui solito subindo o cerroa uns 7 km/h. A partir dali fui até a RS 287 a uns 30 km/h, a dor no joelho tinha passado e minhas condições físicas mais o terreno permitiam ir nessa velocidade. Nesse trecho ultrapassei uns sete.
Depois de subir a tal de subida das sete curvas deu para descançar um pouco. Já no final, indo em direção à UNISC lembrei da largada atrapalhada. Estava chegando! Cheguei! Eram 16:46 hs.

Tomei um chimarrão. Recebemos as medalha e o certificado, e nos bandeamos de volta para Poa depois duma janta num retaurante à beirada estrada, tudo ao som de Kraftwerk - Tour de France...

Como diz o Rodrigo: "Show de bola!"

segunda-feira, março 14, 2005

Passeio em São Francisco de Paula-RS

Semana passada estava tudo combinado, iríamos ao passeio ciclístico de Rolante no domingo!
Partimos para São Chico no sábado por volta das 8 hs em dois carros: eu, a Adriana, o Rodrigo, o Vicente e a Alison.
O plano era fazermos uns passeios curtos, e tipo trilha, nos arredores de São Chico ainda no sábado até o escurecer. Pernoitaríamos na casa dos avós do Rodrigo, e partiríamos domingo cedo para a Rolante-RS, onde estaria acontecendo o segundo passeio ciclístico de Rolante.
A viagem até São Chico deu-se sem problemas. Paramos eu e minha esposa no centro de informaçoes turísticas na entrada da cidade para esperamos os outros três. Aproveitamos para pedir informações sobre locais pedaláveis, mais por curiosidade, visto que o Rodrigo já tinha bolado todo um roteiro para o pedal no sábado.
Um rapaz nos deu a dica do dia:
-Visitem o Parque das 8 Cachoeiras. Vocês podem ir pedalando até lá. Fica a 3 km do centro.

Ele nos forneceu um mapa detalhado do local. A idéia primordial do Rodrigo era pedalar até uma barragem que ficava um pouco distante da cidade, mas como já eram quase dez horas da manhã, com a sugestão do rapaz do centro de informações, ele decidiu nos levar para fazer uma tal de "trilha da balança", percurso mais curto, e depois conhecer o parque.

Apesar dele ter nascido e se criado em S. Chico ele nunca tinha ido nesse tal de parque das oito cachoeiras. A trilha da balança foi batizada com esse nome pelo Rodrigo e o Cleber, grande companheiro de pedal, e amigo do Rodrigo.
É uma espécie de corredor onde passa o gado com destino ao parque de exposições de São Chico.
Chamam balança porque nesse percurso o gado é pesado.

Saimos o Rodrigo, a Alison, o Vicente e eu (minha esposa não pedala mais de 2 quadras) rumo à tal de trilha da balança.
Segundo a definição do Rodrigo, era uma trilha de dificuldade média (para ele), com certos trechos chamados técnicos. Só sei que tinham trechos tortuosos com bastante inclinação e muitas pedras grandes, algumas soltas.
A Alison teve dor nos dedos de tanto frear. Cruzamos riachos (apesar da seca), pulamos cercas. O Rodrigo furou um pneu numa pedra. Ninguém caiu.

Passado o teste da trilha da balança, o Rodrigo nos levou para uma espécie de down-hill, próximo à casa da mãe dele.
Um local bucólico, onde haviam casarões com lindos jardins e grandes árvores. Não sei o que o Rodrigo faz em Porto Alegre, tem muito lugar para pedalar em São Chico.

Descemos um longo descidão com muita pedra solta. Era uma ruela entre alamedas de hortências, trecho também dito técnico, onde tinha até um pontilhão que permitia um salto acrobático no final.

Cheguei com uma inflorescência de hortência inteira grudada no rapid-fire.
Ninguém caiu.
Lá em baixo o Rodrigo disse que a a vantagem era que para subir a ruela não tinha pedras.
Lembrei de mim mesmo quando digo que "é tudo plano". Digo isso, porque faço a média aritmética: 1 subida + 1 descida =1 plano.
Só não sei qual foi a média do Rodrigo com relação às pedras.
Depois de passamos por uma cachoeira seca e aterrada (que pena) fomos para casa.
Já eram três horas da tarde, tínhamos rodado apenas 15 km que me pareceram 50, não pelo cansaço, mas pelo tempo.
Almoçamos no Ding´s bar, no centro. O almoço foi meio janta, tanto pelo horário quanto pela quantidade ingerida.
O prato "a la carte" para 1 pessoa alimentava um batalhão. Para fazer a digestão fomos de carro fazer o reconhecimento do lago São Bernardo. A idéia era deixarmos a Mariana (namorada do Rodrigo) e a Adriana pedalando ao redor do lago enquanto os trilheiros destemidos desceriam até o parque das 8 cachoeiras.
Por fim a Adriana e a Mariana foram dormir, e os bons de perna, guiados pelo bombeiro Cleber desceram um verdadeiro perau rumo ao parque das 8 cachoeiras.

A descida era pedreira! Muito inclinada, muita pedra. Logo no início ouvi um berro do Rodrigo...
-Iahuuuuuuu!!!
Ele desapareceu na frente junto com o Cleber.

Fomos eu, o Vicente e a Alison atrás, segurando no freio. A Alison comentando sobre a dor nos dedos de tanto frear. No caminho tinha um mirante que foi ignorado/não visto pelo Rodrigo tamanha a velocidade que o medonho despencava.
Paramos eu, o Vicente e a Alison ali, vimos um câmping bem lá embaixo, minúsculas barracas, minúsculas árvores...
-Será que vamos descer até la?? Como vamos subir???
-Sei lá!

Despencamos novamente. Na entrada do parque, onde tinha o camping, estavam o Rodrigo e o Cleber nos esperando.
O Parque das 8 cachoeiras ficava a 2,5 km do Lago São Bernardo. A estrada pedreira chamava-se estrada da Roça, que levaria a Rolante. Segundo o Cleber, ela não leva a Rolante coisa nenhuma: acaba numa trilha traiçoeira, cheia de peraus mortíferos.

O parque tem 130 ha e conta com a maior concentração de cachoeiras do sul do Brasil. Vinte trilhas levam às 8 cachoeiras. Ali pratica-se eco-turismo radical, tipo rapel, etc.

Andamos de bike por dentro do parque entre as árvores, caminho cheio de raízes, pedras, cipós. Quando íamos por uma trilha que levava a uma localidade chamada "perau das escondidas" caí um tombo! e bati logo o joelho problemático.

Mas como bati o joelho na grama, não foi nada grave. A causa do tombo foi um cipó enroscado no guidon.
Na queda até achei uma pinça perdida de um pessoal da universidade que estava acampado ali. Eles andavam em fila indiana, com uma espécie de rede amarrada a um pau, pareciam estar caçando insetos. Depois descobri que naquela região existia uma espécie rara de árvore albina.

Visitamos apenas uma das cachoeiras, a cachoeira do remanso.
Era enorme. Tinha mais um menos uns 30 m de altura.
Vi imagens e fotos da famosa Gruta Azul, e aquela cachoeira me pareceu que deveria ser chamada Gruta Verde. Por tudo havia vários tons esverdeados, misturados com o preto das pedras, fiquei hipnotizado.
Sentei numa pedra e não queria mais ir embora.

Já estava escurecendo, o pessoal me chamou.

-Vamos subir!

Decidi voltar ali num futuro próximo.

Subir. Subir mesmo! Lá de baixo dava para ver o mirante onde tínhamos parado na descida.
-Teremos de subir até lá??? E é só a metade do caminho!!!

O Rodrigo e o Cleber foram até a entrada do parque no pedal, coisa de se admirar para quem fez uma cirurgia no joelho há poucos meses.
Eram uns 500 m, mas com inclinação de quase 35 graus, na grama, com grandes pedras ocultas. A Alison, o Vicente e eu fomos empurrando a bike por outro trecho, mais íngreme, mas mais curto. Na entrada tinha uma lancheria onde tomamos uma coca-cola antes de iniciarmos a empreitada da subida até São Chico.
Um Sr. ficou assombrado ao saber que iríamos subir pedalando até o lago São Bernardo.
-São loucos!! Que subida!

Mas o pessoal era bom de perna e antes do escurecer já estávamos no lago.

Eram umas oito da noite quando decidimos dar umas voltas em Canela para pegar a Chocofest. Fomos em seis num carro que cabem cinco. Eram só uns 33 km.
Chegamos às dez e a estava tudo fechado, não tinha chocolate.
Fomos até Gramado. Procuramos um lugar para tomar o café. No centro, uma torrada com manteiga custava sete reais.
Voltamos com fome até pararmos na padaria Pandoro, na estrada que liga Gramado à Canela. Ali serviam sanduiches gigantes a preços razoáveis. As mesas eram cobertas por um vidro grosso, sob os quais os clientes deixavam recados em guardanapos de papel.
Havia até um recado recente, com o desenho de uma bike. Era dum ciclista que chegou ali pedalando vindo de Torres. Ele estava participando da volta de Porto Alegre, no bilhete elogiou os sanduiches da padaria.
A Alison e eu deixamos nossos recados nas mesas 2 e 12, respectivamente. Dali voltamos a S. Chico e caimos no sono. Dormi como uma pedra.
Acordei às sete, coloquei as bermudas de ciclista, camiseta, tudo pronto para ir no passeio ciclístico de Rolante. Saí do quarto topei com o Rodrigo que conversava cabisbaixo, sentado aos pés da cama da Alison e doVicente Aí descobri que estava caindo um toró.
Decisão final depois de um chimarrão: vamos direto para Porto Alegre!