Enquanto dirigia, escutava o cd "Tour de France" do grupo Kraftwerk. Logo o Rodrigo comentou que a trilha sonora daquele cd aparentemente não tinha nada a ver com ciclismo, dada à monotonia das melodias technopop. Comentei que aquilo realmente não tinha nada a ver com trilhas radicais, mas muito a ver com retões/longas distâncias em asfalto.
-Deve ser alguém indo para o Audax...
O Rodrigo gritou:
-É o Daniel!
Paramos.
O Daniel perguntou se tinha carona.
Colocamos a bike dele no transbike, trocamos o cd do Kraftwerk pelo do Peter Murphy e seguimos viagem.
Em Santa Cruz conseguimos vaga num hotel barato. Vaga para quatro, visto que o Anderson da Rodociclo estava para chegar mais tarde, e ficaria conosco. O único problema é que no quarto tinha duas camas de solteiro e uma de casal. Sorte que eu havia trazido um colchão...
Depois de reservarmos as acomodações, comprei uns bolos, mariolas, barras de cereais, água mineral no supermercado Nacional.
Por voltadas 17 hs chegamos à UNISC. Feita a entrega da documentação, vistoria das bikes, reunião do pessoal, fomos jantar no restaurante Centenário, em frente ao Hotel. Estava por ali o Cristiano, mais tarde apareceu o Marcelo e a Ester. Saí dali por volta das 22:30 hs pois esperava dormir cedo.
Domingo acordei às 4:15 horas da manhã com barulhos de vozes do lado de fora, e com muita sede: o churrasco estava um pouco salgado. Os outros três já estavam acordados: o Anderson havia chegado (coisa que nem vi), nem sei se ele chegou a usar o colchão que eu havia trazido...
Chegamos à UNISC onde comemos um dos bolos que eu havia comprado, as padarias estavam todas fechadas e não tinha como tomar café da manhã.
Preparei um chimarrão, tomei uns mates e fui no banheiro enquanto um senhor meio idoso que viera de São Leopoldo para participar do Audax ficou cuidando da cuia.
Quando saí do banheiro a cuia e a térmica estava no chão e eu já ouvia o Luiz Faccin fazendo a contagem regressiva para a largada:
-8, 7, 6, 5....!
Corri por um gramado uns 200 m até o carro para largar os apetrechos de chimarrão, na volta o pessoal já tinha largado ao som da buzina da bike do Daniel.
Peguei a bike e saí junto com os ultimos. Quando tinha pedalado mais ou menos 1 km o Anderson passou por mim:
-Vamos lá!
Respondi:
-Pode ir! Vou seguir a uns 22 por hora! Pretendo chegar do jeito quesaí.
E olhei para o ciclocomputador.
-Ué? Cadê o ciclocomputador?
Tinha esquecido no carro!Voltei, peguei o aparelho e larguei a uns 30 km por hora.
O Audax tinha começado.
Achei que andando a alta velocidade iria alcançar muita gente... que nada. O pessoal tinha desaparecido. No início do trecho da RS 287 só tinha eu e uns gatos pingados retardatários. Ali passei pelo Daniel e mais dois agachados que consertavam uma bike (depois descobri que erao Rodrigo e o Marcelo emendando uma correia).
Voltei ao ritmo da minha estratégia. Como não tenho oportunidade de treinar numa frequência ótima ou pelo menos boa (geralmente quem mora e trabalha 8 hs por dia em Poa tem essa dificuldade), a estratégia era a de fazer uma média de uns 22km/h na ida e uns 18 km/h na volta, parando uns 15/20 min em cada PC.
Um pouco antes do PC 1 o Daniel e o Rodrigo me alcançaram. Parei num posto de gasolina para calibrar os pneus e eles seguiram. Estava com 30 libras em cada pneu, usava uns semi-slick 1.95. Notei que a bike estava um pouco pesada...
Depois do PC 1 começei a sentir dor no joelho. Alcancei a Esther e fomos juntos por um bom tempo, pegando um vento contra, diagonal.
Quando faltava uns 25 km para o PC 2 passamos por um pelotão que já vinha voltando em ritmo de "raccing". Logo adiante vi o Udo também já voltando na barra circular (ele fez o Audax numa barra circular velha, carregando uma caixa com ferramentas).
Cheguei no PC 2 às 11 hs com uma média pedalada de 23 km/h. Meu joelho doia muito. Achei que não iria poder voltar pedalando. Mas o Rodrigo que estava por ali, tinha uma pomada para cavalo (Calminex) para me emprestar. Passei a pomada, a dor desapareceu.
No PC 2 também encontrei o pessoal que veio de Poa pedalando, O Vicente, a Alison, oValter, ... Quase todos os "Audaxiosos" já tinham passado peleo PC 2 naquele horário. Saí dali às 11:20 hs. Sempre com o sonoridade da música "Eletrocardiogram" do Kraftwerk retumbando na cabeça (aquela música se aderiu no meu cérebro), segui viagem.
Notei que o banco tinha baixado um pouco e que a cada pedalada para baixo eu levava uma pancada nos joelhos. Concluí que poderia ser essa a origem da dor no joelho: banco baixo. Levantei o banco, e fui pedalando até o PC 3 sem dor.
No PC 3 parei um bom tempo, encontrei o Rodrigo que propôs irmos juntos até o final. Eu considerava que já tinha parado bastante, ele queria ficar lá mais tempo, eu estava ansioso para continuar e já estava com o corpo prestes a esfriar.
Decidi ir logo:
-Vou a uns 15 km/h e tu me alcanças ali adiante...
Antes de Vale Verde ele tinha me alcançado. Seguimos juntos a uma média de uns 23/24 km/h até ele dizer que já estava meio cansado eque iria dar umas paradas esporádicas.
E parou num posto de gasolina antes do famoso Cerro da Boa Esperança.
Segui solito subindo o cerroa uns 7 km/h. A partir dali fui até a RS 287 a uns 30 km/h, a dor no joelho tinha passado e minhas condições físicas mais o terreno permitiam ir nessa velocidade. Nesse trecho ultrapassei uns sete.
Depois de subir a tal de subida das sete curvas deu para descançar um pouco. Já no final, indo em direção à UNISC lembrei da largada atrapalhada. Estava chegando! Cheguei! Eram 16:46 hs.
Tomei um chimarrão. Recebemos as medalha e o certificado, e nos bandeamos de volta para Poa depois duma janta num retaurante à beirada estrada, tudo ao som de Kraftwerk - Tour de France...